Nas últimas décadas, o mundo tem vindo a mudar de forma cada vez mais acelerada. No entanto, a forma como olhamos para ele continua, em muitos aspetos, essencialmente igual. É o caso do ensino. Ninguém duvida da importância deste como uma das grandes conquistas da humanidade. Por isso mesmo, urge repensar a forma como vemos o nosso sistema de ensino.
O ensino em Portugal
O sistema de ensino em Portugal está dividido em quatro grandes níveis, a saber, pré-escolar, básico, secundário e superior. O pré-escolar, dos 3 anos até à entrada no ensino básico. O ensino básico, dividido em três ciclos: 1º ciclo, vulgo primária (1º ao 4º); 2º ciclo (5º e 6º); 3º ciclo (7º ao 9º). Segue-se o ensino secundário (10º ao 12º), onde termina a escolaridade obrigatória. Por último, o ensino superior, dividido em licenciatura, mestrado e doutoramento. Este, apesar de ser de frequência opcional, continua a ser recomendável como indicam vários estudos.
Grosso modo é isto. Na realidade há várias nuances, como os cursos profissionais ao nível do ensino secundário, ou o ensino doméstico que pode abranger todo o ensino obrigatório. Mas foquemo-nos no percurso mais geral.
O apoio real
Em termos de desenvolvimento do indivíduo, creio que todos concordamos que o nível de autonomia vai aumentando à medida que este vai crescendo e avançando nos ciclos de ensino. Assim sendo, seria de esperar que o apoio ao desenvolvimento fosse maior, mais especializado e, sobretudo, mais valorizado, nos ciclos de ensino iniciais. No entanto, a realidade mostra-nos o contrário.
Até ao 4º ano temos um único professor responsável pelo ensino. A partir do 5º, temos vários professores, cada um responsável por uma disciplina diferente. A justificação para isto talvez esteja associada ao crescente nível de especialização dos temas que as crianças deverão aprender. Faz sentido. No entanto, se fossemos capazes de dividir em disciplinas aquilo que a criança aprende nos primeiros anos de vida, quantas daria? E temos apenas um professor na sala.
O apoio percecionado
Tendo percorrido todos os níveis de ensino, fico com a sensação de que a perceção do valor do papel do professor aumenta com este. Quem nunca ouviu dizer, ou ficou com a ideia de que, o pré-escolar é para “entreter os miúdos”? Que o “educador não é professor”? Até lhe arranjaram um nome diferente para deixar isso claro! Nos ciclos seguintes a valorização vai aumentando progressivamente e, chegados ao ensino superior, todos os professores são os “senhores doutores”, independentemente de o serem por extenso ou não.
Será por isso que este nível de ensino é designado superior? Por oposição aos outros que, nesse caso, são inferiores? Espero que não seja essa a lógica da coisa pois, a meu ver, e a ter de usar essa categorização que não me parece muito feliz, o superior seria o atual pré-escolar. É ali que se ganham as competências básicas para tudo o que se segue na vida da criança. Um pré-escolar mal feito pode condicionar todo o futuro!