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Outra vez o Estádio 1.º de Maio

De tempos a tempos, regressa ao debate público o “futuro” do Estádio 1.º de Maio em Braga, com propostas sobre a sua reabilitação e sobre a intervenção na área envolvente. Já tive oportunidade de partilhar publicamente a minha opinião aqui no DM em diferentes momentos sobre este equipamento, que, a meu ver, se tornou (há muito) obsoleto e incapaz de cumprir, na prática, a sua função desportiva, e mesmo, enquanto património social ou cultural.

Segundo a legislação em vigor, que estabelece as condições técnicas e de segurança das instalações desportivas destinadas ao espetáculo desportivo, estádios como este são considerados instalações especiais, sujeitas a critérios rigorosos de segurança, funcionalidade e adequação às exigências do desporto profissional. Ora, basta uma observação minimamente atenta para perceber que este equipamento não cumpre esses requisitos. Está longe de oferecer as condições mínimas para acolher, com dignidade e segurança, qualquer competição desportiva relevante.

É indiscutível que se trata de um espaço com valor histórico e simbólico, classificado desde 2012 como Monumento de Interesse Público, inserido numa zona especial de proteção que abrange todo o Parque da Ponte, o que implica restrições importantes e condiciona qualquer intervenção futura, e mesmo realizações desportivas, que exige ponderação, mas não deve servir como desculpa para a inércia ou prolongamento indefinido do impasse sobre o seu futuro, se é que existe.

O que me parece prevalecer, infelizmente, é uma visão nostálgica, sobretudo de gerações mais antigas, que olham para o estádio com um misto de saudosismo e apego afetivo. A verdade é que o estádio perdeu a sua função original há décadas, e as suas condições de utilização são, em muitos casos, potencialmente perigosas para atletas e público. Se olharmos para exemplos internacionais, muitos estádios com maior peso simbólico e histórico já foram implodidos ou completamente reconfigurados, como o Los Angeles Memorial Coliseum (1923), o Estadi Olímpic Lluís Companys em Barcelona (1929) ou o Olympiastadion de Berlim (1936), palco recente do Campeonato da Europa de Futebol. Em todos estes casos, preservaram-se elementos arquitetónicos relevantes, mas a prioridade foi dada à funcionalidade, segurança e utilidade.

Apesar da boa vontade de associações locais e defensores do património, a verdade é que a situação atual é insustentável, sendo ainda, potencialmente trágica, caso nada seja feito e ocorra uma fatalidade evitável. A cada ano que passa, a renovação ou demolição parcial torna-se mais dispendiosa e eventualmente complexa.

Precisa-se, com urgência, um debate público sério, técnico e responsável, livre de revivalismos e de oportunismos políticos ou mesmo económicos, centrado no real valor patrimonial que deve ser preservado, que dê origem a uma renovação moderna e sustentável do estádio e da sua envolvente, incluindo o Pavilhão Flávio Sá Leite. Um plano que deva integrar novas valências voltadas para o desporto, que envolva e motive o associativismo e a comunidade, um modelo claro de uso e exploração, e, não menos importante, a garantia de mais recursos humanos qualificados para a sua gestão.

Se este equipamento é, de facto, importante, enfrente-se o problema de frente, pois continuar a adiar esta decisão é, no mínimo, ignorar uma excelente oportunidade para o desporto, para Cidade e Região.

Fernando Parente

Fernando Parente

6 junho 2025