1. Na introdução à Via-Sacra que se realizou no parque Eduardo VII em 04 de agosto de 2023, no âmbito da Jornada Mundial da Juventude, o Papa Francisco disse que Jesus impele a «abraçar o risco de amar». «Amar é arriscado», disse. Mas acrescentou: «É preciso correr o risco de amar. É um risco, mas vale a pena corrê-lo».
Sublinho a ideia do risco de amar. Embora se não fale disso com muita frequência a verdade é que amar, amar a sério, pode exigir grandes sacrifícios e causar muitas preocupações. Tem um preço. Jesus pagou-o, mostrando que «ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos» (João 15, 13).
2. Numa perspetiva cristã, amar é:
Procurar o bem dos outros. Ajudá-los a serem felizes. Pensar mais neles do que em si próprio.
Servir os outros e não servir-se deles. Viver para os outros e não à custa deles. Ser prestável. Disponibilizar-se para ajudar.
Ser compreensivo. Saber pedir perdão. Saber perdoar sem negociar o perdão.
Criar bom ambiente. Evitar a coscuvilhice. Saber dizer as coisas sem magoar nem ofender. Não ser causa de sofrimento para os outros. Não provocar conflitos.
Resistir à tentação de julgar os outros. Não se fixar no que de negativo neles encontra mas reconhecer o muito que neles existe de bom.
Aceitar os outros como eles são: com qualidades e com defeitos. Reconhecer as qualidades e ser compreensivo para com os defeitos e limitações. Respeitá-los como seres iguais e diferentes. Tomar consciência de que as diferenças são enriquecedoras, pois com elas nos completamos.
Saber dizer: por favor, obrigado, com licença, desculpe. Respeitar a intimidade e a privacidade dos outros.
Saber dar parabéns e felicitar os outros pelos êxitos alcançados.
Sempre que tenha havido algum desentendimento, ter a coragem de dar o primeiro passo em ordem à reconciliação. Não alimentar amuos nem ressentimentos.
Evitar discussões e saber dialogar. Saber ouvir as razões dos outros e saber ceder.
Ter a coragem de pôr de lado preconceitos, manias, teimosias, caprichos. Não criar nem fomentar guerrinhas.
Tratar o outro como ser humano que é, criado à imagem e semelhança de Deus, e procurar ver Jesus na pessoa dele.
Não cruzar os braços face aos problemas e dificuldades dos outros. Participar na vida da comunidade. Praticar autêntico voluntariado. Fazer trabalhos de que muitos fogem mas que é necessário sejam feitos.
3. Amar também é convidar o outro para dar um passeio ou ver um bom filme. Agir como quem sabe que para chamar a atenção do outro para um erro não é necessário chamar nomes nem insultar. Dizer as coisas sem levantar a voz. Prestar atenção ao outro também quando se quer ler o jornal ou ver um programa de televisão. Não se enervar por ouvir o outro dizer mil vezes a mesma coisa. Saber escolher o momento oportuno e as palavras adequadas para dizer coisas desagradáveis. Ajudar o outro a ultrapassar e a vencer as dificuldades que lhe surgem. Tomar consciência de que o outro também tem o direito de poder estar mal disposto. Ajudar o outro a sair de uma depressão. Acreditar que o outro se esforça por se corrigir e ser melhor. Saber contar uma boa anedota e desanuviar um ambiente sombrio.
4. Insisto na ideia: amar verdadeiramente tem um preço que quem ama a sério deve saber suportar. Com obras e não com lindas palavras. Com concretizações e não com promessas.
Amar não é infernizar a vida ao outro chamando-lhe meu amorzinho.