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Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades

Vamos festejar para a semana mais um dia de Portugal, de Camões e das Comunidades; e, oxalá, não seja mais um dia que, apenas, sirva de pretexto a um feriado, umas passeatas, umas pontes, umas comezainas.

Fundamentalmente que não sirva só para mais umas tantas discursatas de ocasião, umas tantas condecorações (brilhantes, lindas, mas nem tanto oportunas) uns tantos desfiles e paradas militares (embora garbosas e imponentes); é que nós, portugueses, cultivamos demais o imediatismo, o portuguesismo histórico-cultural (tipo Alcácer Quibir), mas não curamos das questões essenciais que afligem o povo e, daí, o que não precisamos mesmo é, somente, de mais um dia de Portugal, de Camões e das Comunidades.

Sem dúvida que celebrar esta efeméride tem de ser uma forma de aguçarmos a nossa criatividade e inteligência – o tal élan que nos tem faltado para uma definição clara e objetiva do povo que somos e para onde caminhamos – a nossa genuína idiossincrasia e identidade histórico-cultural; e óbvio é ser um bom motivo para uma séria reflexão que nos leve, naturalmente, a nos encontrarmos no essencial, agarrando com ambas as mãos tudo quanto nos une e repudiando tudo quanto nos separe.

E, então, generosidade, tolerância, diálogo sem violência, concertação social, solidariedade e respeito mútuo parecem-me ser das melhores e mais necessárias ideias-força, ou seja, as motivações capazes de nos arrancar da letargia (social, política, institucional) que nos anestesia; e, mormente, letargia que é um forte travão, um enorme empecilho ao pensamento, desejo e concretização das grandes e necessárias reformas estruturais e objetivos de vida nacionais.

Pois bem, vai sendo tempo, mais do que tempo de exorcizarmos certos fantasmas do passado, sobretudo após a perda do Império – o eldorado que nos trazia agarrados a certas megalomanias históricas, embora com pés de barro e que, por isso, foram ruindo, inexoravelmente, como castelos de areia ou baralhos de cartas; e de nos descobrirmos e nos encontrarmos na essencialidade e desígnio de povo com mais de oito séculos de História, ganhado a óbvia coragem, a triunfal vitalidade e o indubitável realismo para enfrentarmos o futuro com a dignidade e o brio com que construímos um passado de que nunca nos devemos envergonhar e muito menos lamentar.

Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, logo um bom momento, talvez o melhor momento de nos revermos e encontrarmos nessa admirável trilogia e sem rebuços, maquiavelismos, tibiezas e diletantismos ou seja num Portugal que tem de ser Nação (Pessoas) e Pátria (País) – Alma e Terra – Ditosa Pátria minha amada – no dizer do Poeta; o melhor momento de vivermos na Esperança e no sonho, no pulsar coletivo de um coração lusitano com sangue novo, renascido e quente e num Camões, soldado e cantor, não só da apagada e vil tristeza como igualmente do peito ilustre lusitano a quem Neptuno e Marte obedeceram e, assim, símbolo grande de heroísmo e portugalidade; e nas Comunidades que são o nosso melhor prolongamento, a presença viva e ativa nas quatro partidas do mundo, da Alma Lusitana pelo mundo em pedaços repartida.


 

Só, assim, e, sobretudo, quando o nosso país vai sendo invadido por outros povos, outras raças e outras culturas, por força do ecumenismo, da globalização e da inevitável imigração tão necessária como força de trabalho e de desenvolvimento da economia, verdadeiramente assumido deve ser mais este dia de Portugal, de Camões e das Comunidades para que não seja um dia a mais de qualquer coisa, como qualquer dia de calendário; ou seja como uma folha que se rasga e se amarrota, depois de arrancada do calendário do Tempo; mas, se transforme num elo de ligação e coesão entre todos os portugueses em torna da sua cultura, dos seus costumes e da sua Língua Pátria.

Então, até de hoje a oito.

Dinis Salgado

Dinis Salgado

4 junho 2025