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«Intra omnes»

Um dia, alguém perguntou ao então Bispo Robert Francis Prevost qual era o segredo da Pastoral. A resposta surgiu pronta e categórica: «Por Cristo, com Cristo, em Cristo».

Porquê? Porque «somos Cristo» (Jean-Marie Lustiger).

Sendo assim, «intra omnes», todos dentro, todos «para» dentro de Cristo. 

Sem Cristo, nenhuma missão é possível; sem Cristo, nenhum testemunho será credível.

E já que «tudo tem o seu tempo» (Ecl 3, 1), após o recentemente proferido «extra omnes», é hora de remotivar os cristãos para este improtelável «intra omnes Christi».

No fundo, todos de têm de sair para que todos possam entrar. Sair para onde? Para o mundo. Entrar onde? Em Jesus Cristo. 

A Igreja é missionária porque é orante e é orante para ser missionária (cf. At 13, 1-3). Pelo que a oração torna-se missão e a missão torna-se oração.

Oração sem missão seria uma incongruência; missão sem oração levaria a uma falência. 

É de Cristo que saímos para o mundo; é no mundo que instamos todos a entrar em Cristo. Sem respaldo espiritual, a missão corre o risco de não passar de agitação inconsequente.

Daí a advertência de Leão XIV: «Quanta necessidade temos de recuperar o sentido do mistério! E como é importante redescobrir o sentido do primado de Deus, o valor da mistagogia, da oração incessante»!

Para isso, é vital reaprender a ouvir. O ouvido é como «o buraco da fechadura que recebe a chave, pois o mistério da vida não é espetáculo para ser visto, mas história para ser ouvida».

Olhemos, então, para Cristo! «Aproximemo-nos d’Ele!

Acolhamos a Sua Palavra que ilumina e consola».

Esta Palavra emerge do silêncio do Pai (cf. Jo 1, 18). 

Portanto, é pelo silêncio que reentraremos no mistério de Cristo e conseguiremos que muitos aspirem a nele entrar. «O silêncio – como vincou o Papa Francisco – é essencial na vida da Igreja».

Com efeito, nada convence tanto a entrar em Cristo como ver alguém inteiramente mergulhado em Cristo.

Deste modo, faria bem à Igreja – como, em contextos diferentes, sugeriram Carlo Martini e Jean Lafrance – partir para uma espécie de «deserto» e aí permanecer durante alguns anos. Talvez ouvisse melhor a Palavra que o Senhor lhe dirige. 

A interioridade não é uma fuga; pelo contrário, é a atitude mais recetiva, mais acolhedora.

Santo Agostinho – que tanto inspira o atual Pontífice – recomenda: «Entra dentro de ti mismo: pois no homem interior habita a verdade» , ou seja, Jesus Cristo.

Neste tempo de correrias – e gritarias – um pouco de «slow living» (desaceleração) configuraria uma preciosa terapia.

Em suma, «intra omnes», todos dentro, todos dentro de Cristo. Quem se encontra dentro de Cristo nunca se ausenta do mundo pelo qual Cristo deu a vida!

João António Pinheiro Teixeira

João António Pinheiro Teixeira

3 junho 2025