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Seguros de Saúde

 



 

 



 

Sentado numa sala de espera, Manuel olha para o relógio, consulta o telemóvel. Já passaram 50 minutos. O médico ainda não o chamou. O Serviço Nacional de Saúde (SNS), sobrecarregado, torna esta espera rotina. Não admira, então, que Manuel, como cada vez mais pessoas, procurem alternativas…

É aqui que entram os seguros de saúde e o papel de destaque que têm vindo a ganhar na vida dos portugueses.

Nos últimos anos, o mercado de seguros de saúde em Portugal tem crescido de forma assinalável. Em 2023, o setor registou um aumento de 18,3% nos prémios brutos emitidos, ultrapassando os 1.420 milhões de euros. O número de pessoas seguras chegou aos 3,9 milhões, e o número de apólices aumentou 7,2% face ao ano anterior. Estes números não surgem por acaso; refletem uma mudança de mentalidade e, acima de tudo, uma necessidade real.

Porque é que tantos portugueses optam por um seguro de saúde? A resposta é simples, mas profunda: 68% dos novos clientes apontam as falhas do SNS como a principal razão para investir num seguro. Tempos de espera intermináveis, dificuldade de acesso a especialistas e a perceção de que o setor privado oferece melhor qualidade de serviço são fatores decisivos. E, se juntarmos seguros, subsistemas como a ADSE e planos de saúde, cerca de 58% da população adulta já está abrangida por alguma destas soluções

Mas nem tudo é linear. O mercado português distingue-se pela coexistência de seguros de saúde regulados, subsistemas públicos e uma miríade de planos ou cartões de saúde. Enquanto o seguro de saúde é um produto regulado, com cobertura definida e sujeito à supervisão da ASF (Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões), os planos de saúde – muitas vezes confundidos com seguros – oferecem descontos em consultas e exames, mas não garantem reembolso nem proteção financeira em caso de doença grave.

Esta fragmentação gera confusão. Muitos utentes não sabem exatamente o que estão a comprar. Será um seguro? Um plano? Um simples cartão de descontos? Esta falta de clareza pode traduzir-se em problemas no acesso aos cuidados de saúde, especialmente quando mais precisam.

Se olharmos para o futuro, o mercado de seguros de saúde enfrenta desafios de peso. O envelhecimento acelerado da população portuguesa é um deles: mais de 30% dos portugueses têm 65 anos ou mais, e as doenças crónicas são cada vez mais comuns. Isto significa custos crescentes para as seguradoras, que têm de encontrar formas de manter as apólices acessíveis sem sacrificar a sustentabilidade financeira.

Além disso, os consumidores estão mais exigentes. Querem acesso rápido, liberdade de escolha e serviços personalizados. E, claro, esperam que tudo isto seja feito a preços competitivos. Para responder a estas expectativas, as seguradoras têm de inovar, investir em tecnologia e apostar na prevenção, não apenas no tratamento.

Neste contexto, surge a discussão sobre o chamado “Seguro Mínimo de Saúde”. Esta ideia, ainda em fase de debate, propõe a criação de um seguro acessível, com cobertura básica, que funcione como complemento ao SNS. O objetivo? Garantir que todos os portugueses tenham acesso a um nível mínimo de proteção, independentemente do rendimento ou da idade.

Poderá este seguro mínimo ser a resposta para muitos dos problemas atuais? Talvez. Ao oferecer uma solução padronizada, clara e acessível, poderia ajudar a combater a fragmentação do mercado e a garantir maior equidade no acesso aos cuidados de saúde. Mas, para ser eficaz, terá de ser bem regulado, transparente e adaptado à realidade portuguesa.

O setor dos seguros de saúde em Portugal está num ponto de viragem. O crescimento é inegável, mas a complexidade também. Entre desafios demográficos, exigências dos consumidores e a necessidade de regulação, o caminho faz-se caminhando – com inovação, responsabilidade e, acima de tudo, foco nas pessoas.

No fim do dia, o seguro de saúde não é apenas um produto financeiro. É uma promessa de proteção, uma rede de segurança para quando a saúde falha. E, num país onde o SNS já não chega para todos, essa promessa nunca foi tão importante.

Se está a pensar em aderir a um seguro de saúde, faça perguntas, informe-se, compare. Porque, no meio de tanta oferta, o mais importante é garantir que, quando precisar, terá algum especialista que o possa aconselhar devidamente.

Mário Peixoto

Mário Peixoto

31 maio 2025