Numa carta enviada ao imperador romano por um general em serviço nas Ibérias, este militar afirmou que: “nestes confins das Ibérias, há um povo que “não governa nem se deixa governar”. Referia-se, como bem se deduz, aos portugueses.
Pressupõe-se, claro está, que nesses tempos do Império Romano, os portugueses já não praticavam a unidade, não havia coesão política, pelo que já testemunhava rudez social/política e quem sabe, inveja uns dos outros.
Mais de dois milhares de anos passados, da referida carta do general romano, Portugal ainda se mantém como o povo que “não governa nem se deixa governar”!
Pensemos nos mais de mil e um comentadores que temos de tragar nas televisões. Percebem de tudo, comentam de tudo e sempre prontos a exibir as suas (deles) especialidades da matéria a tratada. Tantas inteligências subaproveitadas, milhares de horas anuais gastas nas televisões a dar aulas de TUDO, e perante tal cultura apresentada, o povo parece nada saber, nada aprender.
Cinquenta anos de democracia, o mesmo tempo de aulas de comentadores/especialistas e, o povo, ainda não aprendeu que os políticos dos partidos de extrema-direita e da extrema-esquerda querem os sinos a tocar a favor do regresso do corporativismo, de só pensar quando se dorme, da ausência dos direitos do homem e de limites à sua liberdade.
O povo português ainda não aprendeu que os regimes ditatoriais, fascismo ou comunismo, não têm cabimento na vida daqueles que amam a felicidade de se sentirem livres!
O povo português ainda não entendeu que só a democracia pluralista o faz verdadeiramente livre e responsável! Falta-nos a coesão política, a unidade como nação ou somos invejosos.
Nestas eleições legislativas deste ano de 2025, podemos concluir que o povo vive insatisfeito, talvez frustrado ou até revoltado. Terá razões, pois claro. A qualidade dos líderes é discutível, a falta de coerência e de carácter cheira-se a longa distância e a ética social e política parece nunca lhes ter sido foi ensinada em casa e, muito menos, nos estabelecimentos de ensino. É de “fartar vilanagem”, como dizia o jornalista Agostinho Caramelo. Matam-se, verbalmente, uns aos outros.
Campanha eleitoral banalíssima, desorganizada, aborrecida, desactualizada, com testemunhos de ódio, com acusações oportunistas e mentirosas e, mesmo assim, o povo não foi capaz de escolher os menos maus líderes da política para nossos futuros governantes: parece terem andado ao deus-dará, parece terem-se marimbado para o dia da reflexão.
É fácil afirmar-se que só os políticos são e foram os culpados destes perigosíssimos resultados eleitorais. E na verdade, não se percebem declarações públicas de ódio, de acusações sem ponta por onde se lhe pegue, de tanto mal dizer entre adversários políticos, de tanta banalização política, do nulo projecto para matar tantos problemas que nos afligem, de tanta mediocridade.
E se é verdade que temos umas centenas de líderes políticos que nos perturbam, que temos de desviar porque não servem, mas servem-se, é obrigação do povo eleitor nas mesas de voto, saber e conscientemente votar-bem, para o bem da comunidade a que pertence, e nunca optar por invejas, egoísmos e frustrações de ocasião. Essas centenas ou milhares de políticos que nos perturbam, não podem ter força e muito menos se imporem frente a dez milhões de eleitores a votar.
Se o resultado destas eleições estagnou ou estupfactizou todos aqueles que dão valor à democracia, á liberdade, também o povo votante errou. Logo, somos todos culpados, embora uns mais culpados que outros.
Coremos o risco de estagnar quanto à resolução dos problemas que nos esmagam. Alguém, dentro dos partidos políticos, tem que ceder para bem do país, caminhar em prol do país e nunca em favor dos partidos.
Os portugueses são activos, trabalhadores e incansáveis. Devem por isso os políticos – pois têm essa obrigação – de pensar mais no povo e não em ideais partidários, em umbigos pessoais, em demagogias rançosas e, jamais, na política de mentiras e da engorda indevida. “Portugal está primeiro”!
Basta de líderes de ocasião, de gente que tudo faz e diz para se governar, de gente que não é capaz de sossegar o povo. Povo desorientado não pensa, não sabe separar o trigo do joio e, portanto, indirectamente é culpado dos estilhaços que accionou.
“Gente que não governa nem se deixa governar”. Mais uma vez e nestas eleições legislativas de 2025, somos todos culpados.