Recentemente, assisti a uma edição do “Coach Talks”, um evento promovido pela Confederação de Treinadores de Portugal. O convidado foi Jorge Braz, selecionador nacional de Futsal em permanente diálogo com Pedro Sequeira. O tema em debate foi “as competências essenciais do treinador” e a conversa levou-nos a refletir sobre diferentes estilos de liderança, o valor das equipas técnicas multidisciplinares e, acima de tudo, o lado humano do desporto em que o atleta deve estar sempre no centro das nossas preocupações.
Ouvir Jorge Braz é perceber o que realmente importa. E não falo apenas das questões técnicas, como a criação e adaptação de exercícios de treino - ajustando o espaço, o tempo, o número de jogadores ou os toques na bola - elementos fundamentais no planeamento e organização do mesmo, orientados para o desenvolvimento de comportamentos específicos e melhoria de competências para o que importa – o jogo e competição. Obviamente que tudo isto faz parte do “caderno de encargos” que quem abraça o treino, possui no seu ADN (geneticamente programado para tentar e, muitas das vezes, falhar).
O que mais me marcou foi a forma como Jorge Braz valoriza a autonomia dos colaboradores enfatizando a importância de um trabalho em equipa verdadeiramente complementar. Também partilhou uma sua convicção (emocional) importante: ver o desporto ao vivo – em pavilhões, campos, pistas ou piscinas – dá-nos uma perceção muito mais rica do que qualquer transmissão televisiva. Além disso, destacou também a importância de observar e aprender com treinadores de outras modalidades, pois há algo que (n)os une a todos: a procura do sucesso e da perfeição, mesmo que esta nunca seja alcançável.
Na Federação Portuguesa de Futebol (FPF), há um foco muito claro no desenvolvimento de competências humanas e sociais, na criação de um verdadeiro espírito de equipa e na partilha de conhecimento. Todos os envolvidos nas seleções, incluindo equipas técnicas dos clubes nacionais, assumem as suas responsabilidades. A colaboração entre clubes e federação é total - sem ela, o sucesso da seleção não seria possível. Este trabalho conjunto, onde todos dão um pouco de si, é um exemplo de como o futsal nacional está organizado, da base ao topo. É uma forma organizacional que bem podia ser aprendida (e até adotada) pelos políticos do nosso país.
Cada vez que ouço e leio testemunhos de pessoas de sucesso no desporto – seja na formação ou no alto rendimento – mais me entristeço com a falta de qualidade que vemos em muitos dos nossos representantes políticos - quanto mais atos eleitorais há, melhor o percebemos.
Também por isso, atrevo-me até a sugerir que a Confederação do Desporto organize um próximo webinar dedicado a este tema: “As competências essenciais para quem quer seguir a carreira política”. E, atendendo até que no espetro político está para se iniciar uma nova época, seria interessante que o Webinar acontecesse no primeiro plenário da nova Assembleia da República, com presença considerada obrigatória.
O título? “Coach speaks, politicians listen and learn” (O treinador fala, os políticos ouvem e aprendem).