Para alguns, foi um dia de farra e comemoração, para outros, um verdadeiro pesadelo. O Tio Gonçalinho estava bravo quando o encontrei na última quarta-feira depois de ter enfrentado dificuldades para levar a esposa a uma consulta de oftalmologia.
- Meu caro Luís, vi-me aflito há pouco por causa do cortejo dos estudantes universitários.
- Então porquê?
- Tive que levar a minha Micas ao Hospital dos Lusíadas, não sabia do acontecimento, fui barrado na entrada da Rua de Santa Margarida junto ao Sá de Miranda, pensei poder descer com o carro a Rua do Taxa, mas sem sucesso. Quando a descia, ao fundo já havia barafunda e dirigi-me às Enguardas. Fiquei bloqueado e a mulher acabou por descer do carro e ir a pé para o Hospital enquanto eu tentava um lugar para estacionar e ir ter com ela de seguida.
- Uma grande trapalhada, Tio Gonçalinho!
- Foi isso mesmo, meu amigo. Mal tinha estacionado o diabo do carro, a Micas telefonou-me aflita a dizer que um agente policial não a deixou seguir para chegar à Rua D. Pedro V, por ser perigoso, ainda mais com o problema de que padecia, tendo-a aconselhado a voltar para trás e a descer a Rua do Taxa, pois aí a situação estaria mais calma. Contou-me ela que havia rapaziada – alguns seriam quase doutores, mas com o seu comportamento nada condizente não merecem melhor título – a agitar garrafas de vidro de cerveja, uns a pé, outros em cima dos camiões alegóricos, lançando-as para o chão, fazendo-as rebentar, a que se seguiam salpicos e estilhaços de vidro.
- E o agente de autoridade não impediu tal comportamento?
- Não, a minha Micas disse-me que o polícia lhe disse mais ou menos isto:”E o que é que eu vou fazer? Estou há dois dias sem dormir. Queixe-se à Câmara!”
- E foi então que lhe deu o conselho de voltar para trás…
- Não, esse conselho foi-lhe dado por um agente que chegou depois, com modos atenciosos.
- Ninguém conseguia passar, portanto…
- Se alguém passasse corria um sério risco de levar com alguma garrafa ou, no mínimo, ser molestado de alguma forma. Mas havia na assistência que se encostava junto à farmácia das Enguardas quem relevasse a balbúrdia: “Coitados, é a festa deles!”, contou-me a Micas.
- Tudo bem, Tio Gonçalinho, mas há que ter regras e não colocar os outros em risco, ainda por cima com atitudes que não deviam ser próprias de gente com um nível de educação superior...
- Estou a contar-lhe isto com muita tristeza. Olhe, caro Luís, a minha mulher estava estarrecida quando me encontrou ainda bem perto do lugar que encontrei para estacionar. Disse-me que viu o que nunca esperou ver em gente com estudos, como por exemplo, corpos de estudantes deitados uns em cima de outros, o que parecia ser um monte de lixo! E bebedeiras monumentais e muito lixo a sério deixado no chão! “O Rio não se importa”, ouviu de alguns que assistiam, “esta malta antes ia para o estádio, agora é isto que se vê!...” Se calhar, amigo Luís, com o intuito de agradar para colher votos, é que esta pouca vergonha aconteceu!…
- Mas, então, como conseguiu chegar ao Hospital, apanhou de novo o carro?
- Não, fomos a pé, tal como sugeriu o segundo agente de autoridade. Entramos na D. Pedro V pela Rua do Taxa, mas a tarefa foi difícil: exíguo espaço para passarmos e com muito cuidado para não sermos bombardeados pelo despejamento gratuito de latas de cerveja. Foi uma verdadeira aventura até chegarmos ao destino.
Depois da conversa com o Tio Gonçalinho, que acabou por ser mais longa do que a que aqui reproduzo de cor, fui tomar alguma coisa ao McDonald’s. Encontrei lá um par de finalistas que esperavam pelo camião do seu curso “para comemorar” e que me confirmaram que “algum exagero há sempre” e que “quem se porta mal aqui, porta-se mal em qualquer lado”. Alguém teve de limpar o resultado do vendaval e, certamente, ninguém o fez de borla. Com alguma probabilidade, alguns dos que despejavam cerveja, sem regra e sem nexo, são exigentes quando reclamam apoios sociais para os seus encargos universitários!…
2. O Partido Socialista (PS) está metido numa grande sarilhada. À hora de Domingo a que escrevo, as coisas estão bastante negras para o lado do Largo do Rato. O PS perdeu para a AD e para o Chega. E agora? Comentou-se que o PS fez mal em ter caído na teia de Montenegro. Pessoalmente, concordei com a sua posição na altura e continuo a considerar hoje, bem sei que ao arrepio do que a grande maioria diz agora perante os resultados, que Pedro Nuno foi coerente. Percebo que na política a táctica é a preferida e que a coerência vale mesmo muito pouco. O PS vai suportar o novo governo? Pedro Nuno diz que não deve, mas será o novo secretário-geral socialista a decidir que muleta estará disposto a emprestar a Montenegro.