twitter

O Papa vai «desaparecer»?

Afinal, o Papa vai «desaparecer». 

Foi ele próprio quem o publicitou e em forma de compromisso irrenunciável, extensivo aliás a quem exerce qualquer missão na Igreja.

 

O Papa quer «desaparecer para que Cristo permaneça». 

Quer «fazer-se pequeno para que Cristo seja conhecido e glorificado». Quer «gastar-se até ao limite para que a ninguém falte a oportunidade de O conhecer e amar».


 

No fundo, está a repristinar a aspiração maior de João: «Que Ele [Jesus Cristo] cresça e eu diminua» (Jo 3, 30).

O protagonismo na Igreja é – só e sempre – de Cristo. Pelo que a felicidade suprema de quem O segue não é simplesmente viver; é que Cristo viva nele (cf. Gál 2, 20).


 

Não espanta que Leão XIV evoque Santo Inácio de Antioquia: «Serei verdadeiro discípulo de Jesus quando o meu corpo for subtraído à vista do mundo».

Grande, por isso, é aquele que se torna pequeno para que Cristo seja conhecido e amado.


 

Tal como Cristo é a transparência do Pai – «Quem Me vê, vê o Pai» (Jo 14, 9) –, cada membro da Igreja é chamado a ser transparência de Cristo. 

Assim sendo, quem está perto de um cristão não pode estar longe de Cristo.


 

Essa transparência implica um contínuo itinerário de conversão. O objectivo visa a plena transformação de cada um em Cristo, até que Ele seja «tudo em todos» (cf. Col 3, 11).

Torna-se, deste modo, imperiosa «a nossa relação pessoal com Cristo». 


 

É neste sentido que a Igreja vale «não tanto pela magnificência das suas estruturas ou pela grandiosidade dos seus edifícios, mas pela santidade dos seus membros».

Referindo-se concretamente aos presbíteros, já o então cardeal Robert Francis Prevost defendeu a necessidade de «sacerdotes santos, não de gestores».


 

De facto, é pela santidade que a Igreja surgirá como «farol que ilumina as noites do mundo».

Estas «noites do mundo» irrompem na «perda do sentido da vida, no esquecimento da misericórdia, na violação da dignidade da pessoa, na crise da família e em tantas outras feridas de que a nossa sociedade sofre».


 

Há portanto que regressar – e com tintas de urgência – «ao primado do anúncio de Cristo». É vital que «toda a comunidade cristã se torne missionária, crescendo na colegialidade e na sinodalidade». 

Não negligenciemos a «piedade popular». E jamais descuremos «o cuidado amoroso para com os marginalizados e os excluídos».


 

Nada disto advém dos nossos conceitos. Tudo isto dimana da escuta silenciosa do Senhor. 

Ele «gosta de Se comunicar, mais do que pelo estrondo, através do “murmúrio de uma brisa suave”». É «a este encontro que não se pode faltar». É este encontro que faz «reaparecer» Cristo no mundo, acendendo nele uma inextinguível «chama de fé e de amor».

João António Pinheiro Teixeira

João António Pinheiro Teixeira

20 maio 2025