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“Terra nostra”

 

 



 

Na sua Encíclica Laudato si (louvado sejas), o saudoso Papa Francisco fez um apelo às pessoas para cuidarem da casa comum, seguindo o exemplo do Santo de Assis. Isto é: respeitar o planeta, louvar e honrar a Deus, agradecendo a bondade do Sol, do vento, da água e de outras formas naturais. Uma herança sensível entregue pelo Divino Criador à humanidade, a fim de que ela trate a terra como quem cuida da sua velhinha mãe. 

Ora, não sendo eu leão de club, mas de signo, espero que o novo Papa, Leão XIV, dê continuidade às preocupações ambientais manifestadas pelo seu antecessor, dado nunca ser demais lembrar o que está a suceder com a terra em termos degradação. Havendo, já, quem compare a sua agonia ao envenenar da placenta no ventre de uma mãe grávida que alimenta o seu filho. Uma vez ser ela quem não só acolhe todos os seres vivos, como os sustenta e alimenta gratuitamente de tudo quanto provém das suas entranhas. Condição indispensável ao seu equilíbrio e povoamento. 

Só que o tempo passa e, apesar da informação disponível à desintoxicação do nosso habitat natural, muito pouco tem sido feito. Uma vez que cada nova solução parece trazer aspetos nocivos. É que os seres humanos não só têm sido mesquinhos e egoístas para com quem lhes proporciona bom viver, como causam danos em tudo que a terra gera. 

Ferem-na, esventram-na e roubam todas as riquezas nela escondidas. Basta estarmos atentos às gigantescas fissuras deixadas pelas minas. Algumas delas para exploração de diamantes, como a que existe na Sibéria russa, próxima de Mirny, em cuja profundidade do golpe atinge 525m de profundidade e 1,25 km de diâmetro. Havendo muitas outras a céu aberto em vários países do mundo. Dou como exemplo as de extração de cobre em Chuquimata, no Chile, as de El Chino, no Novo México e a de Levander Pit nos EUA, só para citar algumas.

Depois, temos as perfurações para extração de petróleo e gás natural que chegam a atingir centenas de metros de profundidade. Poços, esses, que são inúmeras vezes incendiados, no intuito de elevarem os preços no mercado. Sendo o seu transporte efetuado em petroleiros por via marítima, estando sujeito a acidentes. E sempre que um se regista, são toneladas de crude derramados no Oceano, com todas as nefastas consequências para a biodiversidade marinha e para os humanos que se alimentam de pescado.

É, pois, no sentido de reduzir a poluição no planeta, devida a esses desastres ambientais, que surgiu o lítio. Mineral raro usado na eletrificação de tudo aquilo que se move a combustíveis fósseis, como é o caso das viaturas. Só que para ser extraído requer escavações terrestres, ao que as populações locais se vêm opondo. Como, aliás, sucede em Portugal.

A par dessas sádicas torturas sobre a terra, e como os carros precisam de estradas suaves, são nela despejados quilómetros e quilómetros de asfalto. Autênticos mantos negros que deixam a sua pele (crosta) com dificuldade em respirar. Provocando nela um estado febril que lhe envenena o sangue. Isto é, sem a possibilidade de se refrescar para chegar à temperatura ambiente ideal para a sua saúde.

Mormente arrancam-lhe as vestes, ou seja, as árvores das florestas e devastam-nas com enormes incêndios provocados por gente sem escrúpulos. Como vem sucedendo na Amazónia brasileira, considerada o pulmão do planeta, em que cada político que assume o poder diz que vai atuar severamente sobre os criminosos. Só que se vai a ver e entre 2020 e 2024 desmataram-se 50.772 km2, uma área equivalente a 5 milhões de hectares.

Enfim, não obstante o consumismo desenfreado, a “terra nostra” também sofre com as guerras e testes nucleares, em que nela são despejadas toneladas de bombas, mísseis, drones, etc. Sendo certo que o seu grito de raiva e dor não se ouve, mas sente-se. Vai daí, revolta-se, treme, descontrola-se, provoca tempestades, ciclones com chuva a potes e vinga-se com a destruição de bens e colheitas. Tudo isto, sem sabermos o que ainda estará p’ra vir. 

 

Narciso Mendes

Narciso Mendes

19 maio 2025