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A cidadania exige mais de todos

Deambulava no Sábado passado pelas ruas da cidade quando me cruzei com Paulo Sousa, pessoa que conheci como jornalista, já não sei precisar, mas seguramente há mais de duas dezenas de anos, numa viagem ao Parlamento Europeu para a qual fomos convidados. O meu amigo trazia vestida a T-shirt da Campanha contra a Abstenção que o Movimento de Cidadania Contra a Indiferença, criado por ele em 2021, está a promover até à véspera das Eleições Legislativas. Louvei-lhe a iniciativa cívica e a canseira e transmiti-lhe que estava a pensar escrever esta Terça-Feira precisamente sobre a questão da abstenção eleitoral. Animou-me a fazê-lo. Aqui fica a minha breve reflexão.


 

No próximo Domingo, dia 18 de Maio, os portugueses vão ser chamados, mais uma vez, a escolher os seus representantes à Assembleia da República e, indirectamente, o Governo do país. A decisão precisa de ser responsável e deve, idealmente, ser tomada por todos. Assumamos a determinação de não deixar uma decisão tão importante nas mãos de outros concidadãos. Por mais que confiemos nos nossos vizinhos, nos nossos camaradas, nos nossos companheiros e noutros amigos disponíveis e melhores informados, a verdade é que a soma dos boletins escrutinados não espelha a mesma vontade se não forem contados os votos de todos quantos reúnem as condições legais para elegerem os representantes na Casa do Povo. A Revolução dos Cravos, que comemoramos há pouco mais de duas semanas, trouxe-nos esse direito, que é também dever. Direi mesmo que só continuaremos a ter esse direito se, entretanto, fizermos por cumprir regularmente o dever.


 

As desculpas para não exercer esse direito são várias, quase todas pouco sustentadas. Evidentemente que há sempre razões ponderosas para não comparecer na secção de voto, mas serão certamente residuais tais casos. Os partidos que ganham as eleições e depois nos governam não cumprem o que prometem. É verdade e bem frequente que o fazem premeditadamente, apenas porque consideram ser a forma de ganhar eleições. Alguns dirigentes usam de autoritarismo quando governam e a ética anda pelas ruas da amargura. Também é verdade. Estar lá (no poder) uns é a mesma coisa que estar outros de partido diferente, é outra desculpa. Na verdade não é, ainda que a diversidade de partidos que tenha estado no poder seja bastante míngua. Desde há cinquenta anos, descontados os primeiros tempos de alguma indefinição, governaram-nos representantes de apenas quatro partidos, embora as rédeas tivessem sempre em timoneiros socialistas e sociais democratas. Ainda não vimos nem sentimos como governa a maioria dos partidos do espectro político português. A culpa pode ser dos próprios partidos que se não organizam, não comunicam da melhor forma, não atraem eleitorado e até por outras razões, mas também por nossa culpa. Quando decidimos não votar por motivos como os que referi simplificadamente acima, por não acreditarmos nos que nos têm desiludido, por que não procuramos escutar melhor as mensagens de outros partidos que tradicionalmente não ganham eleições? Já repararam que o voto útil que nos é pedido por um ou outro partido do chamado arco da governação só serve para que esses partidos continuem a dirigir o país? Bem, pode ajudar a que se crie estabilidade, dir-me-ão. E será que isso é suficiente para assegurar a satisfação das necessidades dos cidadãos?


 

Mas, o objectivo a que me propus para esta crónica era contribuir, ainda que modestamente, para que ninguém deixe de se pronunciar nas urnas sobre quem queremos a representar-nos. Existe uma panóplia grande de partidos que concorrem às eleições e haverá certamente um que, mesmo que saibamos de antemão que não vai ganhar a eleição, nos pode representar melhor do que aquele em quem alguma vez já votamos, nos representou mal e, por causa disso, passamos a ser abstencionistas determinados e compulsivos. Votar é importante e sempre decisivo. Façamos uma atenta reflexão e deixemos por uns momentos o sofá para colocar a cruzinha no quadradinho correspondente ao partido com o qual mais nos identificamos, ainda que seja (para já) um pequeno partido. Se não votarmos, como haveremos de ter razão e exigir que respeitem os nossos direitos?

Luís Martins

Luís Martins

13 maio 2025