Já votei. Sendo emigrante, cumpri o meu dever cívico com antecedência, enviando o boletim de voto segundo todas as instruções sugeridas. Mas não deixo de sentir que o processo podia ser mais simples, mais moderno, mais eficaz. Está mais do que na hora de Portugal avançar para o voto eletrónico. As vantagens são óbvias: maior rapidez no apuramento dos resultados, menor pegada de carbono, redução significativa de custos e, talvez o mais importante, a possibilidade real de diminuir a taxa de abstenção, sobretudo entre quem está longe ou desmotivado pelo processo atual.
Sempre que voto, tento fazê-lo com uma visão ampla do que está em causa. Tento pensar no impacto que o voto pode ter nos setores verdadeiramente estratégicos no meu entender: a educação, a economia, a saúde, o ambiente, a proteção social. Mas confesso que há dois domínios que me tocam de forma mais direta, e nos quais posso comentar com um pouco mais de propriedade, por serem o foco da minha atividade profissional, o desporto e a educação, embora ache que pode impactar em todas as áreas anteriores de forma muito positiva.
Ao longo dos anos, já votei em quase todos os partidos. Para mim, o mais importante são as pessoas, aquelas que me parecem capacitadas e competentes, que transmitem confiança, que revelam visão. O partido, confesso, é quase sempre acessório. Mas, de há uns tempos para cá, impus-me limites: há linhas vermelhas que não ultrapasso e linhas azuis que me obrigam a censurar determinadas ideias e comportamentos. O aparecimento de movimentos populistas, manipuladores e arruaceiros, que se aproveitam das fragilidades de uma população ainda em progressão cultural, é um fenómeno que me preocupa.
Nos setores onde procuro melhorar o conhecimento, a educação e o desporto, tenho de reconhecer que o atual governo deu passos positivos. Em apenas um ano, o balanço é, na minha perspetiva, claramente positivo.
Na educação, há um esforço real para resolver problemas com muitos anos, mesmo sabendo que há ainda um longo caminho pela frente. Valorizar os professores, aquela que considero ser a profissão mais importante de um país, é essencial. Para termos os melhores a educar de forma excelente, é preciso tornar a profissão atrativa, segura e bem remunerada. A mudança começa aqui, com uma política de longo prazo, que exige coragem e visão, e não apenas medidas avulsas de curto alcance.
No desporto, temos o Secretário de Estado com mais conhecimento do setor desde que existem governos em Portugal. Em cerca de um ano, com a sua equipa, foi capaz de lançar um plano de desenvolvimento desportivo, envolvendo as partes interessadas na discussão para futura implementação com critérios técnicos. É este o caminho: partilhar conhecimento, construir estratégias, criar políticas públicas sustentadas. O desporto, desde sempre marginalizado, mal financiado e politicamente irrelevante para a maior parte dos governos anteriores, parece finalmente ter encontrado um rumo. E isto dá esperança.
Foi por isso que me motivei para votar, mesmo estando longe. Votei não por convicções partidárias ou ideológicas. Votei porque, nos setores que estudo, conheço e vou avaliando, vejo pessoas que estão a fazer a diferença. E é neles que, com espírito crítico e independente continuo a acreditar.