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Teoria das cordas e multiversos

Na brilhante e adorável sitcom The Big Bang Theory, cujas 12 temporadas são frequentemente repetidas nos canais televisivos, Sheldon Cooper (Jim Parsons) é um físico teórico genial com pouquíssimo traquejo social e que se dedica ao estudo da teoria das cordas. Os amantes da série terão ouvido falar pela primeira vez dessa tese com o seu visionamento. Apesar de fascinante, a moderna Teoria das Cordas e multiversos não está comprovada. O surgimento da teoria das cordas e da mecânica quântica levou alguns cientistas a acreditarem na possibilidade de existirem mais universos, os quais, de alguma forma, estariam relacionados com a realidade em que vivemos. Em 1995, Witten sugeriu que as diversas interpretações matemáticas da teoria das cordas tratavam-se, na verdade, da mesma coisa, dando origem a uma teoria unificada. Uma das suposições que emergem dessa teoria é a possibilidade de existirem universos paralelos ao nosso e da existência de corredores vórtices que os ligam. Atualmente, existem diversos estudos com base na teoria das supercordas, concluindo pela existência de 11 dimensões, e alguns, um pouco mais audaciosos, propõem mesmo a existência de 27 dimensões de espaço-tempo.

Se do ponto de vista de física prática, nenhuma prova concludente permite aceitar definitivamente o princípio dos multiversos e de dimensões paralelas, é frequente que o mesmo não se possa dizer dos nossos políticos, designadamente em tempos de campanhas eleitorais, podendo afirmar-se que circulam com bastante facilidade de uma dimensão para outra, de um universo para o seu paralelo, quando fazem promessas que sabem não poder cumprir e apresentam ideias contrárias às que desenvolveram quando estavam no poder, como se o seu anterior governo pertencesse a um país de um universo paralelo.

Veja-se Pedro Nuno Santos a defender o Iva zero para um cabaz de produtos alimentares. Essa ideia foi introduzida como medida temporária pelo governo socialista de António Costa, de combate à subida da inflação no ano de 2023, tendo-a revertido no OE de 2024. Eu critiquei a anulação pelo governo PS da taxa 0% no Iva dos produtos básicos da alimentação, repondo-a nos 6%, num contexto ainda de incerteza quanto ao rumo da inflação. Agora, com a estabilização da inflação e da Euribor nos 2%, essa taxa zero menos se justifica, tanto mais que é socialmente injusta pois beneficia igualmente os ricos quanto os pobres; e não alegue o PS que é o governo de Montenegro que está a ser julgado, afirmação que só faria sentido se o PSD tivesse governado os 4 anos da legislatura, pois um ano é insuficiente para uma avaliação do povo. O PS tem que assumir ainda nestas eleições o governo de Costa, o que não lhe permite navegar entre dimensões socialistas paralelas. O mesmo se diga da baixa do Iva na eletricidade: porque não o fez quando foi governo?

O líder do PS, com uma ideologia próxima do Livre e do BE, parece habitar num universo paralelo, na sua alocução que as prioridades para o PS são as pessoas, as famílias, os trabalhadores, os pensionistas, contra as prioridades da AD, voltadas para as empresas que pagam a maior parte do IRC. O problema é que quando regressa à Terra, não consegue explicar como vai aumentar rendimentos para as pessoas e famílias, sem o aumento da produtividade das empresas, único meio de gerar mais rendimentos para aquelas. Todos estamos de acordo que a prioridade é o bem-estar das pessoas, o problema é que o socialismo tem uma visão de curto prazo, ou seja, fá-lo à custa do endividamento do Estado, uma sanha ideológica com consequências desastrosas a médio e longo prazo. A social democracia consegue-o através do crescimento económico. Há quem no PS tenha uma visão social-democrata, como José Luis Carneiro, Fernando Medina e figuras do distrito de Braga, mas não são esses que estão no poder partidário.

Há pouco mais de um ano discordei do comentário do jornalista Ricardo Costa quando referiu que não seria a economia a determinar o vencedor a 10 de março de 2024, mas sim o capital de confiança que os líderes dos maiores partidos conseguirem no eleitorado. Ganha a economia pelo governo do PSD, agora sim, esse capital de confiança será determinante. E apesar dos ataques vis à sua honorabilidade no caso Spinunviva, a credibilidade que Montenegro granjeou junto ao eleitorado, parece decisiva para a provável vitória da AD.

Carlos Vilas Boas

Carlos Vilas Boas

8 maio 2025