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Os crentes em Jesus deixaram de ajudar os não-cristãos

Na linha da tese (absolutamente inaceitável) de uma abrupta cisão entre o Cristianismo expresso nos textos do Novo Testamento e aquele que lhe sucedeu, deparamo-nos com um outro mito (dito pelo título deste texto) que não se sustenta minimamente face às fontes que chegaram até nós. Na verdade, nunca o Cristianismo reservou, no segundo século, a sua solicitude caritativa aos seus membros, antes se manteve perfeitamente em linha do ensinamento de Jesus quanto a essa situação. Um ensinamento traduzido pelo dizer popular que «no fazer o bem [que é sempre um amar a alguém] não se olha a quem».

Um exemplo do que acabo de apontar é o que nos deixou escrito o grande filósofo e “médico” Cláudio Galeno. Este grande pensador foi alguém tremendamente crítico de todas as formas de vida, inclusive do Cristianismo, mormente por, na sua opinião, se basear, por um lado, em parábolas e, por outro lado, no seguimento acrítico de um Jesus Cristo por si tido como um mero pseudo-taumaturgo. E tudo isto, sem deixar de admitir que tal modo de vida conduzia os varões e as mulheres cristãs a uma vida virtuosa, sobretudo a nível da “filantropia” (por ele considerada essencial, por exemplo, para qualquer “médico”).

No enquadramento da admissão de Galeno apresentada no fim do parágrafo anterior, aquando da grande epidemia de varíola e tifo que grassou, de 165 a 180, pelas cidades do Império Romano, foi notório para este pensador (e outros seus contemporâneos) que enquanto a generalidade dos pagãos (de tão preocupados que estavam consigo mesmos) ou fugia (como fez Galeno) ou se desinteressava dos seus concidadãos, deixando-os entregues a enormes sofrimentos, não menos o derivado da solidão ante uma morte anunciada.

Igualmente evidente foi que os cristãos não abandonavam ninguém: nem quem seguia a Jesus Cristo, nem a quem O desconhecia (ou até O repudiava), nem a quem acusava os cristãos de serem os causadores dessa terrível praga dita “Antonina” (por ter ocorrido durante a dinastia de Imperadores Romanos denominada, justamente, de “Antonina”). Ou seja: os cristãos cumpriram a sua missão crística de cuidar de quem estava doente em vez de os abandonar, salvando assim um número enorme de vidas.

De facto, nos dias de hoje não é difícil encontrar, conhecendo a literatura especializada, quem afirme categoricamente que os cristãos (apesar de muitíssimo diminutos na altura, mas movidos pelo o seu amor universal e autossacrificial ante a situação gerada pela dita praga) terão diminuído o número de mortos em cerca de 30%. Galeno, que nos tem acompanhado neste texto, chegou mesmo a afirmar que, ao não terem abandonado as cidades por «não temerem a morte», os cristãos fizeram com que aquelas se tornassem mais salubres e habitáveis durante a “praga Antonina”.

Note-se, por fim, que se os cristãos agiam assim, não era por uma “filantropia” e “caridade” que, como acontecia com a compreensão pagã, se baseassem socialmente na busca de prestígio pessoal recíproco. Não! A sua ação era consentânea com a sua crença cristã de compaixão pelos mais desfavorecidos e carentes. De modo mais simples: eles faziam o que faziam apenas por serem cristãos – literalmente “pequenos Cristos/Messias”.

Alexandre Freire Duarte

Alexandre Freire Duarte

7 maio 2025