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IA, Dignidade Humana e o Legado do Papa Francisco

O Papa Francisco será sempre recordado como o mais digital de todos os Papas. Usou as redes sociais, falou de tecnologia com conhecimento e atenção, e nunca deixou de olhar para os desafios do nosso tempo. Num mundo em mudança, cheio de inovações que tocam o que significa ser humano, Francisco foi uma voz clara, ética e próxima. Também no digital, foi um verdadeiro farol.

Nos últimos anos do seu pontificado, falou muitas vezes sobre Inteligência Artificial (IA). Em 2024, no encontro do G7, alertou para os riscos de uma corrida cega pela inovação, sem valores nem responsabilidade. E em janeiro de 2025, o Vaticano publicou o documento “Antiqua et Nova”, um texto importante que nos ajuda a pensar sobre os perigos e oportunidades desta nova tecnologia.

O Papa Francisco reconheceu os benefícios da IA, podendo ajudar muito na medicina, na escola, na cultura, no trabalho ou no cuidado com o ambiente. Mas deixou claro que tudo depende de como a usamos. A IA deve estar ao serviço das pessoas e da dignidade humana. Ao mesmo tempo, avisou que a IA também pode aumentar as injustiças, separar ainda mais os ricos dos pobres, dar demasiado poder a poucas empresas e deixar decisões importantes nas mãos de máquinas ou algoritmos, sem controlo humano.

O documento do Vaticano faz também uma distinção importante — a IA não é inteligente como os humanos. A nossa inteligência vive das relações, dos sentimentos, da experiência de vida e da espiritualidade. A IA é uma ferramenta feita por pessoas. Não deve substituir ninguém, apenas ajudar.

O texto alerta para alguns riscos em várias áreas, que devem ser acutelados:

No trabalho, onde podemos perder criatividade e liberdade, se formos apenas controlados por máquinas.

Na saúde, onde pode haver menos contacto humano entre médico e doente. E cresce o risco de existir uma “medicina para ricos”.

Na escola, a IA pode dar respostas rápidas, mas sem ajudar os alunos a pensar por si ou a escrever com as suas próprias ideias.

Nas relações humanas, há o perigo da solidão, de relações frias ou até de confundirmos máquinas com pessoas, como acontece com alguns chatbots.

O Papa falou também sobre a proteção da nossa privacidade, sobre o risco de usar a IA para espiar pessoas ou controlar opiniões. Condenou o uso de IA em armas autónomas, que matam sem qualquer intervenção humana, e rejeitou com firmeza o uso da IA para criar notícias falsas, imagens e vídeos manipulados (deepfakes). Lembrou ainda que a IA consome muitos recursos naturais e pediu mais respeito pelo ambiente.

Um legado que nos responsabiliza

Este apelo do Papa Francisco encontra eco direto nas reflexões que tenho vindo a partilhar ao longo dos últimos meses. Em “Tecnologia e Inteligência Artificial: A Última Oportunidade”, falei da urgência de usar a IA para construir um mundo mais justo orientada de raiz para as pessoas, no que chamo de IA “Social by Design”. Em “Resistir ou Adaptar-se?”, defendi que a tecnologia deve servir as pessoas, mas sem perdermos a nossa capacidade de pensar e decidir.

No artigo “Agentes de IA”, destaquei que as máquinas devem ser ferramentas ao nosso serviço, e não sistemas que decidem por nós. Em “Viver Para Sempre”, explorei os limites da IA no modo como tratamos a memória, a identidade e até a morte. E em “IA no Combate às Fake News”, alertei para os riscos da manipulação digital da verdade. Por fim, em “O que a IA nos Ensina sobre Liderança”, defendi um tratamento mais humanizado, fazendo um paralelo interessante entre liderar pessoas e dirigir a IA.

Tal como o Papa Francisco, acredito que a tecnologia pode ser uma grande oportunidade para fazer o bem. Mas isso só acontece se fizermos as escolhas certas. Com responsabilidade. Com consciência. E sempre com humanidade.

Obrigado, Papa Francisco!

Guilherme Teixeira

Guilherme Teixeira

7 maio 2025