A pescaria começou oficialmente no Domingo passado, mas já antes os profissionais encartados faziam pela vida. Para alguns, não havia nem há mãos a medir, socorrendo-se de todo o tipo de redes hoje ao dispor, com alguma arrogância e introduzindo a ameaça e o medo na campanha. Dizem que torná-la humilde e séria é uma sugestão absurda que não permite pesca que se veja. Ninguém está para seguir o guião mais honesto. A maré é de pescar no mar de outros, desguarnecendo os mais relaxados.
Luís Montenegro, já se sabe, quer o mesmo que António Costa conseguiu há uns tempos atrás, ainda que possa ter criticado, e bem, o segundo. Ambos predispuseram-se ao mesmo truque: provocar eleições antecipadas com o fito de conseguirem uma maioria absoluta depois. Nem um nem outro falaram dela na campanha, mas não passou/não passa na cabeça de ninguém que não tenha sido isso/seja isso o único objectivo para terem provocado a interrupção da legislatura. São palavras ocas, mentirosas, as que se pronunciam para dizer que a interrupção gera instabilidade e esta causa graves problemas para o país. Ambos usaram os argumentos que lhes convinha. O melhor é não acreditarmos nas proposições com que vão desfilando argumentos políticos. Nas suas estratégias, os eleitores não contam para nada. As pessoas que se lixem, elas são só importantes para o apuramento dos votos, ainda que possa não ser para lhes fazer mal. Mas, não deixa de ser uma burla, uma desconsideração. E o país fica cheio de promessas enganosas.
No caso de António Costa, o truque saiu-lhe bem e sabemos todos quais foram as consequências para um país inteiro: uma desgraça. Não faltou prepotência nem incumprimentos até tropeçar num a cada dia de governação. Uma maioria absoluta não é boa para ninguém a não ser para quem esteja ao leme e aos demais oficiais e encarregados de negócios. Para os demais é só desilusão, vida difícil, falta de professores para os filhos e filas de espera para todos da Família. Estamos avisados. E Montenegro não é melhor do que Costa e, portanto, que ninguém caia na imprudência de seguir o encanto do patuá dele nem de ninguém. Não vale a pena nos afanar-nos se não for por um bom motivo e a cor da bandeira é coisa pouca. Pensar faz bem e ser livre é não se deixar corromper nem por palavras, nem por pretensas benesses. Agir no escuro é o pior que podemos fazer. Quantos esforços em vão!... Depois de nos safarmos de uma situação, não queiramos voltar a outra do mesmo género. Não há logros bons e logros maus. São todos desrespeitosos e antidemocráticos, são todos decepcionantes, dos quais devemos fugir como o diabo foge da cruz.
Para nos convencermos de algo que procuramos, muitas vezes fazemos comparações. É sempre preferível escolhermos o menos mau, naturalmente. Mas, quer-me parecer que a situação actual é capaz de ser ainda pior do que já foi: um representante do partido do governo de Montenegro propôs que a Judiciária se intrometesse no trabalho dos jornalistas do Expresso a propósito da informação de que o ainda primeiro-ministro, afinal, ainda andava a esconder informação que a oposição solicitava desde há uns tempos atrás. A propósito, será que já revelou definitivamente tudo para que se não ande a mastigar sempre a mesma matéria elástica? Há meio século atrás já se fazia este tipo de pressão sobre a comunicação social, ainda que de outro jeito: antes, sabia-se como acabava o processo; hoje, felizmente, já não é assim, mas por quanto tempo? Hoje faz-se a pressão mais às claras, é verdade, mas também se põe em causa o papel dos jornalistas que é absolutamente fundamental num regime que se diz e quer democrático. Como noutros tempos, há alguns que bem desejariam "açoitar" os que, estando convencidos e dizendo a verdade, não têm papas na língua, intimidando-os a calarem-se. Não nos enterneçamos diante dos algozes. Afinal, não virá nenhum mal ao país – antes pelo contrário –, se voltarmos a ter um governo minoritário.