Transcorridas a defunção e as exéquias do amado Papa Francisco, as atenções voltam-se para a escolha do próximo Sucessor de Pedro.
Assiste-se a uma compreensível sofreguidão acerca de nomes e supostos favoritos. Será o mais importante?
Fundamental é amenizar alguma ansiedade seguindo, aliás, um ditado argentino que o anterior Pontífice gostava de evocar: «Espera até que se esclareça».
Com Francisco aprendamos «a esperar os tempos de Deus», não nos deixando «seduzir pelo efémero e pelo volátil».
Neste sentido, só nos faria bem revisitar o perfil de Pedro que o Bispo de Roma presencializa e traslada para o mundo.
Tal perfil é inteiramente modelado por Cristo, que até o nome altera: «Tu és Simão; serás chamado Cefas» (Jo 1, 42), ou seja, «Pedro».
Tendo centrado a Sua mensagem no Amor, o Mestre por três vezes lhe pergunta se O ama (cf. Jo 21, 15.16.17).
A cada resposta de Pedro sobrevém uma incumbência da parte de Jesus: «Apascenta as Minhas ovelhas» (Jo 21, 15.16.17).
Duas decorrências se evolam deste colóquio: 1) as «ovelhas» não são de Pedro e 2) é no amor de Jesus e pelas «ovelhas» de Jesus que Pedro as deve apascentar.
Germina assim uma Igreja plenamente «fixada» em Jesus, saudavelmente «obcecada» por Jesus. De tal maneira que se dispõe a dar a vida por Jesus (cf. At 7, 54-60).
Dir-se-ia, colando uma imagem arrojada do século XI, que «aquele que é atingido por uma “doença” chamada Jesus nunca mais consegue “sarar”». Como seria robusta a Igreja se – da «cabeça aos pés» – contraísse perpetuamente semelhante «doença».
«Cheirando a ovelha» – locução que se acoplou inveteradamente ao Papa Francisco –, Pedro não perdia nenhuma oportunidade de anunciar Jesus Cristo (cf. At 2-3).
Apresenta ousadamente Jesus Cristo como único Salvador. Em mais ninguém há salvação (cf. At 4, 12).
Resultará então que «extra Christum nulla salus»? A conexão é linear: sem Cristo não há salvação.
De resto, os mais recentes acontecimentos são de uma «eloquência» aterradora. Ao convertermos o «Amai-vos uns aos outros» em «Armai-vos uns contra os outros», estamos a empurrar a humanidade para os portões do abismo.
Só a vivência do Mandamento Novo (cf. Jo 13, 34) conseguirá travar esse passo devorador.
Uma vez que a eternidade habita o tempo, Cristo, ao doar-nos a salvação eterna, também nos oferece a salvação temporal.
É por isso que testemunhar Jesus Cristo é proclamar a salvação total: a salvação do pecado e a salvação das consequências do pecado.
A resposta pode não vir de todos. Mas a proposta terá de chegar a todos. Será lícito «calar o que vimos e ouvimos» (At 4, 20)?
Pedro foi o primeiro servidor da «Igreja em saída». Não para se dissolver no mundo. Mas para «forrar» o mundo com a Pessoa e o Evangelho de Jesus!