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“Semeador” de esperança

 

 

 

Recordo o grito do saudoso Papa Francisco, em jeito de convite, apelando para que venham todos, todos, todos, porque as portas da Igreja de Cristo estão abertas, incondicionalmente, aos filhos de Deus. Certamente que os mais tocados pelas suas palavras proferidas em Portugal por altura das Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ), em agosto de 2023, decidiram entrar nela pela primeira vez. Porém, outros há que, fechados nas suas teses filosóficas de agnosticismo e ateísmo, recusam. Ou seja, preferem continuar a sua caminhada materialista como doutrinadores das manhãs que cantam, sem a devida força espiritual da fé.

Pois bem, crentes e não crentes consideraram a morte de Jorge Mário Bergoglio uma enorme perda para a humanidade. Assim foi com os Papas anteriores, não sendo diferente com este. Contudo, pude verificar a preocupação manifestada por cada uma das personagens partidárias nacionais em puxar, como lá diz o povo, a brasa à sua sardinha. Isto é, indo buscar as partes que mais lhes interessavam, preconizadas por ele, para se declararem seus admiradores incondicionais.

Daí ter ocorrido lembrar-me, durante as cerimónias fúnebres no Vaticano, daquelas vozes que se esqueceram de tudo quanto disseram de inusitado e corrosivo por altura da instalação do altar-palco erigido para as JMJ, à beira Tejo, às quais presidiu o Santo Padre e com ele participaram mais de um milhão de jovens. Assim como das torpes preleções com que procuraram minar aquele colossal evento, nunca visto no nosso país, cujas imagens percorreram o mundo.

De resto, apesar do farisaísmo de algumas dessas vedetas, manifestado por altura da morte do Papa – que dizia ter vindo do fim do mundo –, não nos iludamos: voltaremos a ouvir delas palavras e a ver ações avessas a tudo aquilo que forem iniciativas católicas centradas nos jovens. Já se aqueles gastos tivessem servido para custear festanças políticas aí, estou certo, nada teriam a opor. 

Não obstante, o importante foi ter-se verificado um consenso em relação não só à personalidade e carisma de Francisco, como ao sentido do seu magistério centrado, sobretudo, em temas pertinentes e atuais. De entre eles o da escassez de atenção aos mais frágeis, pobres e oprimidos, da discriminação entre as criaturas de igual condição humana e à falta de paz no mundo. Demonstrando compaixão, em especial, para com os que morrem e sofrem com as guerras. Bem como simpatia pelos defensores da causa climática, como se viu pela forma como ele acalentou a ativista, Greta Thunberg, a prosseguir a sua luta. 

Em boa verdade, soube conter a descristianização em marcha, na nossa Europa e não só. Pelo que se deseja venha a ser escolhido, dentro do Colégio Cardinalício, um novo Sumo o Pontífice com postura, garra e resiliência, idênticas às dele, por forma a prosseguir na senda de abertura e modernização da Igreja de Cristo, a fim de não deixar esmorecer a ancestral matriz cristã das nações europeias, inclusive a da sociedade portuguesa.

Neste momento, a cristandade espera é ter um novo Papa capaz de continuar a ser um “semeador” de esperança e das Bem-aventuranças pregadas por Jesus Cristo, como foi Francisco: de as saber difundir e adubar com toda a espiritualidade; de acarinhar e chamar os jovens, sem medo, à fé; de não descurar o diálogo inter-religioso e, com coragem, prosseguir as reformas na Igreja Católica, erradicando a germinação do joio que a atormenta, mormente o dos abusos sexuais. 

É que eu, devido à minha proveta idade, já conheci ‘sete’ Sumo-Pontífices: Pio XII; João XXIII; Paulo VI; João Paulo I; João Paulo II; Bento XVI e Francisco. E dos seus pontificados cheguei a ouvir palavras de apreço em relação às suas vidas devotadas à Igreja de Pedro no mundo. Mas também ouvi algumas críticas injustas e, até, inverdades a seu respeito. É e será sempre assim. Agora, como irá ser o ‘oitavo’ Papa de toda a minha vida, só o Conclave reunido e iluminado pelo do Espírito Santo – o dirá.



 

 

Narciso Mendes

Narciso Mendes

5 maio 2025