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Não podemos deixar de afirmar o que vimos e ouvimos

No último Sábado foi a sepultar o nosso querido Papa Francisco. Digo nosso porque considero que ele não era só dos católicos, nem sequer só destes e dos demais cristãos, mas do Mundo. Foi admirado por todos, pela coragem, pelas virtudes, pelo que pregava, pelo exemplo que dava. Não foi certamente o primeiro a praticar bem as palavras de Jesus – felizmente, a Igreja comemora e celebra muitos homens e mulheres que ao longo dos séculos deixaram um testemunho de santidade – mas foi seguramente um dos que, com a sua palavra e exemplo, mais impacto causou nas pessoas. Estou em crer que os maiores impactos ainda chegarão, ainda que não seja pouco o que nos deixou até partir, a crentes e não crentes, a novos e velhos, a muitos convencidos das suas certezas e a outros que nunca ousaram sentir segurança nas suas ideias e interpretações das mensagens evangélicas. Não acho que tenha sido controverso, apenas destemido e determinado, o que não foi pouco. Foi suficientemente progressista, ainda que alguns quisessem que fosse mais, mas a Igreja tem o seu tempo e o seu ritmo. Mesmo assim, isso lhe valeu alguns pequenos ódios de estimação por parte de correligionários que acharam e acham que desvirtuou as palavras e o sentido das Escrituras. A pequena revolução que provocou foi suficiente para que hoje quase todos possam comemorar a sua vida, a sua mensagem e instigue a presente e as futuras gerações a fazer diferente, a serem destemidas e revolucionárias na defesa dos mais pobres e indefesos, dos que não têm voz, de todos os que vivem nas periferias, como ele se referia aos deserdados da sociedade. Ainda que possa vir a parecer, se for o caso, que o futuro Sumo Pontífice não venha a seguir as pegadas do Papa Francisco, nada ficará como antes. A Igreja vai pautar a sua acção pelo serviço aos seus fiéis e a todos os outros que precisem, mais ainda do que tem feito. O número dos seus ministros a quererem desinstalar-se dos seus cargos e funções e a aproximarem-se do povo vai seguramente aumentar. As repercussões de uma revolução não se vêem nem se sentem logo, mas acontecerão inevitavelmente. Para o bem ou para o mal, acontecerão. Eu acredito que, neste caso, acontecerão para o bem. Os mais conservadores quererão outro ritmo ou até algum ou muito retrocesso, mas não serão suficientes, nem terão a clarividência para influenciar a maioria a voltar atrás. Jesus foi um verdadeiro revolucionário no seu tempo e o testemunho que deixou aos seus discípulos foi que O seguissem. Quem vai teimar a desafiá-Lo? Só se for pelo poder, por arrogância ou sede autoritária, mas nesse caso os promotores deixariam de estar ao serviço do povo de Deus - e Deus é de todos, independentemente dos diferentes credos religiosos e da maior, menor ou nenhuma simpatia dos homens com o Divino – mas a servirem-se das suas funções ministeriais.


 

O título que escolhi para a crónica de hoje tem tudo a ver com o que acabei de escrever. Retirei-o da primeira leitura da liturgia de Sábado passado (Actos 4, 13-21). Pedro e João estavam determinados a testemunhar em favor de Jesus e não se acobardaram, apesar das sucessivas ameaças. Tinham razões de sobra para o fazer, conheciam a verdade e eram inspirados pelas palavras que Jesus lhes transmitira e acreditavam Nele. O que fizeram era "demasiado claro para todos" para que alguém, mesmo com poder, pudesse "negá-lo". Os que pudessem ter ficado espantados, "nada encontraram para replicar", diz o texto bíblico. Ninguém consegue que uma boa notícia se espalhe, o que foi, sem dúvida, o prodígio realizado pelos Apóstolos, ainda que sob a força das ameaças. Como Pedro e João ousaram retorquir o poder vigente e instalado - "Julgai vós mesmos se é justo, diante de Deus, obedecer a vós primeiro do que a Deus" - assim o próximo Sumo Pontifice tenha a autoridade moral, a coragem, a inteligência, a determinação, a clarividência e o sentido de serviço para não duvidar no rumo que deve imprimir à Igreja.

Luís Martins

Luís Martins

30 abril 2025