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A democracia que temos

Nestas três semanas de pausa e de ausência às NORTADAS, tempo houve para uma reflexão séria e necessária sobre a vida democrática nacional; e a conclusão a que cheguei não é muito premonitória e pouco lisonjeira e, por isso, vejamos.

Após as celebrações das bodas de ouro (50 anos) da nossa vida democrática, não foi grande a euforia popular e nem as promessas de melhores e mais felizes dias nos foram garantidas; pois, na realidade, até parece que estamos a recuar, notando-se certo abrandando do ritmo, da vitalidade e do empreendedorismo dos agentes políticos e dos respetivos partidos e movimentos que os tutelam.

E, então, face a estas evidências somos forçados a concluir que precisamos séria e urgentemente de renovar a nossa cinquentenária Democracia; e, mormente, porque longe ainda andamos, muito longe e incapazes de cumprir os objetivos que a definem e acalentam.

Por exemplo, a justiça social, o combate à fraude e evasão fiscais, o empenho contra a pobreza e a doença, a educação e o emprego plenos para todos os portugueses estão ainda muito ausentes e, inclusive, com evidentes assomos de agravamento; e, mormente, as desigualdades económicas, culturais e sociais persistem e tendem a agudizar-se entre a grande maioria dos cidadãos.

Depois, se deambularmos por aí com os olhos bem abertos e a cabeça bem em cima dos ombros, isto é, sem andarmos por ver andar os outros, facilmente descremos de grande parte dos políticos que têm dirigido e governado o país; e, depressa, caímos na desilusão, no desencanto e na descrença de que não temos tido homens sérios, competentes, idóneos, trabalhadores – os verdadeiros estadistas – que se possam comprometer e empenhar na direção e governação do país.

E mesmo nestes cinquenta longos anos de vida democrática temos tido enormes dificuldades em pôr fim à corrupção, ao compadrio, ao arranjismo, às fugas ao fisco, às lavagens de dinheiros e ao roubo de capitais com falências de bancos e empresas; e a ética, a dignidade humana e o cumprimento dos direitos e deveres fundamentais continuam muito distantes das intenções dos políticos e ausentes das políticas públicas, numa declarada amnésia dos alicerces de uma Democracia ativa e viva e para todos que foi prometida aos portugueses no 25 de Abril.

Por isso, é necessário e urgente pensarmos na renovação e revigoramento da nossa Democracia; porque, doutro modo, corremos o risco de a deixarmos estiolar e morrer, mormente perante a evidência do ressurgimento e avanço de movimentos e partidos políticos extremistas, populistas, xenófobos e autoritários.

Também é deveras criticável e condenável o que se passa com pessoas que ocupam cargos de responsabilidade em autarquias e até, no Parlamento, indiciados por crimes e abusos de elevada indignidade e fealdade; e basta pensarmos no episódio do desvio de malas em aeroportos nacionais levado a cabo por um deputado de um partido representado no Parlamento para concluirmos como a nossa Democracia está diminuída e doente. Já o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a propósito da celebração dos 50 anos do 25 de Abril, lembrou as fragilidades porque passa a nossa Democracia e a necessidade de ser melhorada em prol das pessoas; e alertou para a verdade de que todas as democracias são inacabadas, imperfeitas, desiguais, quando deviam ter menos pobreza e serem menos injustas, menos corruptas, com menos desilusões mas mais lugar para que os nossos jovens possam nela trabalhar e viver.

Pois bem, sabendo nós que uma Democracia só vale se tiver qualidade, fiabilidade, legitimidade e verdade, impedindo, assim, que no seu seio convivam e vinguem a demagogia, a corrupção, o oportunismo, as falsas promessas, a promoção pessoal, a injustiça social, a prepotência dos mais fortes contra os mais fracos, temos ainda muito para aprender e fazer; porque, infelizmente, mesmo já com rugas e traços de velhice, a nossa democracia deixa muito a desejar e pena é que a sua dinamização já careça de um trabalho árduo e persistente de todos nós.

Pensemos, pois, nesta débil vida democrática que temos praticado e, afirmo mesmo sem rebuços, que ela está doente e em risco de colapsar; e, sem ser pessimista, se queremos continuar a viver nela e com ela, façamos todos os possíveis, e porque não, até alguns impossíveis, para a manter cada vez mais viva e ativa.

Então, até de hoje a oito.

Dinis Salgado

Dinis Salgado

30 abril 2025