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Um espelho para ”todos, todos, todos…”

Sendo hoje um dia importante para Portugal, ao comemorarmos a Liberdade conquistada há mais de meio século, era importante que percebêssemos, se dela, temos feito bom uso. Foi após a revolução de abril – 1974 - que se soltou o indignado que havia em “todos, todos, todos…” nós. Sempre preparados para a crítica fácil e prontos a apontar o dedo ao que entendemos ser incorreto, esquecemo-nos frequentemente de usar espelhos para poder começar essa mudança desejada. Até porque, o mundo deixou de ser um local aprazível e/ou seguro para se viver, mais ainda, quando percebemos que aqueles que têm o poder decisório, não possuem a principal qualidade que qualquer SER HUMANO deve ter que é, na realidade... ser humano.

Para que isso aconteça, na verdadeira aceção do termo, convém cumprir com alguns pressupostos, a saber: desde logo, possuir a capacidade de refletir sobre si próprio e as suas atitudes; gerir convenientemente as emoções, percebendo sempre o que é, ou não, correto fazer em determinadas situações; ser empático, tentando, se possível, calçar os sapatos do outro; haver coerência no dizer e no fazer. Quando (e se) qualquer um de nós o conseguir, está dado um contributo - ainda que ligeiro - para um mundo melhor, mesmo que se cinja apenas àqueles com que nos relacionamos. E, aqui chegados, transpondo estas valências para o campo desportivo, percebemos que ainda muito há a fazer, principalmente onde ela é mais importante - no desporto de formação.

Muitos clubes, usam habitualmente a época pascal para organizar/participar com os seus jovens “projetos de atletas” em inúmeros torneios de diferentes modalidades, no país e no estrangeiro. As redes sociais enchem-se de fotos e de… vencedores. Infelizmente, também surgem muitas imagens de derrotados, não na competição em si, mas naquilo em que a transforma(ra)m, sendo as crianças e jovens, alvos de um ataque feroz - a uma matriz de VALORES e boas práticas que o desporto em si encerra - por parte de familiares que não deveriam, nem poderiam, estar ali. A não ser possível impedi-los, porque não, usar os cartões, amarelo, vermelho ou azul, na bancada junto de quem não sabe SER nem ESTAR, num espaço que se quer formativo. Acreditem, bastava um pouco de senso comum por parte de “todos, todos, todos…” para que a sua falta momentânea - de senso comum - não causasse problemas, com consequências (às vezes) irreparáveis.

Deixo aqui, pois, um alerta a quem sinta enquadrar-se neste grupo de “agitadores de bancada/incentivadores de violência”: acreditem ou não, estão a dar um forte contributo para o abandono da prática desportiva por parte das crianças/jovens que dizem apoiar.

Saibamos usar convenientemente a liberdade que nos foi facultada há mais de meio século, seguindo esta máxima do nosso Nobel, José Saramago: Somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos. Sem memória não existimos, sem responsabilidade, talvez não mereçamos existir.

E isto, como diria o Papa Francisco, é carapuça que serve a “todos, todos, todos…”


 


 


 


 


 

Carlos Mangas

Carlos Mangas

25 abril 2025