Neste texto permito-me regressar uma vez mais a um mito relacionado com o Batismo. Iniciado com os nossos irmãos protestantes (e entre estes sobretudo os “anabatistas”, que só admitem o batismo de pessoas que sejam capazes de professar a sua fé de modo consciente), o mito expresso no título que encabeça estas palavras, tornou-se deveras contagioso.
Prova disto é o facto de (até na Igreja Católica) não ser raro ouvir-se tal mito para se justificar o Batismo apenas de adultos (esquecendo-se, assim, a graciosidade e gratuidade de uma graça divina que, embora não sob a forma de uma graça santificante purificante típica do Batismo, já age em nós desde a nossa conceção).
Já a relação com Constantino provém da necessidade de se arranjar uma “data credível” e uma personagem que se possa converter, facilmente e devido às suas ações reais (em especial o dar liberdade aos Cristãos, na sequência do último “édito” [“informação legal pública”] de Galério), num “bode expiatório” para tantos e tantos supostos malefícios para o Cristianismo.
Pois bem, seria maravilhoso que fosse inequívoco que At. 2,38s; 16,33 e 1Cor. 1,16 se referissem a bebés (embora estes possam ser naturalmente abarcados pela palavra “filhos” presente na primeira das três referências bíblicas que apresentei). Todavia, se assim fosse (e na minha quiçá equivocada opinião), os mais literalistas dos nossos irmãos protestantes nunca ousariam sustentar uma doutrina batismal contrária à Sagrada Escritura.
Mais confortável fico com a tese de que o batizar bebés possa estar incluído em Lc. 18,15s com o termo “criancinhas” ou, talvez melhor, “infantes” (sendo que esta última palavra significa “aqueles que ainda não falam”). No entanto, ainda pairam dúvidas acerca desta interpretação.
Passando-se ao lado de Ireneu de Lyon (por desconforto da minha consciência bem ordenada e da minha responsabilidade), a dúvida sobre a existência do mencionado batismo permanece até ao fim do séc. II, com o misterioso Hipólito e Tertuliano de Cartago.
O primeiro, nuns estratos mais primitivos da obra “A Tradição Apostólica”, menciona: «batizem-se primeiro as crianças e, se elas puderem falar por si próprias, que o façam. Caso contrário, os pais ou outros familiares devem falar por elas» no diálogo de aceitação da fé e de renúncia ao mal. “Crianças que não falam” parece apontar para os já mencionados “infantes”, dado que será pouco provável, ou até errado, pensar-se que se refere a crianças mudas.
Acérrimo defensor do não se batizar bebés e crianças (e, assim, testemunha do facto de que estes eram usualmente batizados), Tertuliano de Cartago, no texto “Acerca do Batismo”, aduz: «o adiar do Batismo é preferível; principalmente, porém, no caso de crianças pequenas», com estas duas últimas palavras a apontarem, com toda a probabilidade, para bebés.
Chegados aqui podemos dizer, com confiança, que no séc. II já era comum o batismo de bebés, para: lhes ser comunicado o Espírito Santo que os enxerta em Jesus; serem integrados na Igreja, Corpo Místico de Jesus Cristo; serem colocados na “porta da salvação” (que apenas será atravessada no momento definitivo da vida); e, aquando de doenças, os fortalecer. Acerca do perdão de pecados (que o Batismo opera), não é claro na sua associação com os bebés.