De um católico que gostava de viajar foi, no mínimo, desconcertante a resposta que deu à proposta de peregrinar até à Terra Santa.
«Eu gosto de visitar os lugares onde Jesus “está”, não o lugar onde Jesus “esteve”».
Tratava-se de um adolescente que acabara de denotar uma clarividência prodigiosa.
Na dezena e meio de anos da sua vida, parece que Carlo Acutis – vai ser canonizado no próximo domingo – passou pela Terra em «grande velocidade». Passou por nós sobretudo em «alta-fidelidade».
É notável como percebeu, de forma tão penetrante, que sem a Eucaristia só poderíamos dizer que Jesus «viveu». É na Eucaristia que testemunhamos que Jesus «está vivo».
Não espanta, por isso, que da Eucaristia tenha feito «a sua autoestrada para o Céu». Por entre as ocupações habituais da sua idade, a participação na Eucaristia foi sempre a prioridade. Nela participava todos os dias.
Mas não só. À igreja chegava antes (para se preparar) e da igreja tardava em sair (a fim de dar graças ao Senhor).
A sua maior felicidade era comungar e adorar. Também não descuidava a Reconciliação. Confessava-se todas as semanas!
Vivendo entre 1991 e 2006, mergulhou a fundo no universo digital, transfigurando-o em poderoso instrumento de missão.
«Infoperito», Carlo Acutis tornou-se um ágil – diria mesmo genial – «missionário da internet», um invulgar «ciberapóstolo».
A Maria afeiçoou-se desde sempre e apaixonadamente. Chegou a declarar que «Nossa Senhora era a única mulher da sua vida».
Rezava todos os dias o Terço, que trazia enrolado no pulso. E rumou a numerosos santuários marianos, entre os quais Fátima e Lourdes.
Tinha uma perceção aguda – e muito agostiniana – de que fomos criados para Deus. Só que, muitas vezes, optamos por atravessar caminhos que acenam com uma felicidade insinuante, mas enganadora.
Daí o seu lamento, que funciona também como um alerta: «Todos nascemos como originais, mas muitos morrem como fotocópias».
Transitando pelas estradas digitais, foi um jovem do seu tempo com o olhar apontado à eternidade.
Não se privou de jogar «playstation», mas a sua primazia era «o bom uso da internet, evangelizando através dela». Até na produção da página «web» do Vaticano esteve envolvido.
Entretanto, em setembro de 2006, «foi-lhe dado – palavras suas – um despertador»: o que parecia ser uma simples gripe revelou-se uma leucemia galopante.
A 12 de outubro, pelas 6h45, «despertou» junto do Senhor. A «autoestrada» demorou apenas quinze anos a depositá-lo na Casa do Pai.
Afinal, de «jeans», ténis e blusão – a sua indumentária preferida – também se enfeitam «trajes» de santidade.
Determinante é deixar-se encontrar por Jesus. Não onde Ele «esteve». Mas onde Ele continua a «estar»: especialmente na «autovia» que tem o nome de Eucaristia!