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A brincar com a cara de 42% dos franceses

Uma qualquer modesta juiz de 1.ª instância…). Quer vestir o fato de Luís XIV… Na sua cabeça (e dos que a influenciaram, claro), “l'État c'est elle, sont eux”). Não é o Povo Francês (ou o que hoje dele resta) que governa. Quem ela finge que governa, são “os juízes”. É a lei cega. Cega e estúpida, porque injusta e de sanções desproporcionadas e exageradas. Lei essa que se aplica, apenas a quem apetece ao juiz, não a todos os outros consabidos alegados infractores.

Em Democracia, sentenças desta importância, mas sem recurso?!). Em Democracia, os juízes limitam-se a (criteriosamente, sabiamente) aplicar a Lei. Não interferem (como se verifica clamorosamente neste caso…) com a Política. Não se atravessam no curso eleitoral. Não proibem candidatos ou personalidades, só porque elas vão muito à frente nas sondagens. Isso é próprio dos regimes autoritários. E mesmo assim, só às vezes. Salazar não proibiu Delgado (embora essas eleições não fossem “limpas”). Em 1974-75 os Otelos e Vascos Gonçalves (e muitos falsos democratas…), esses sim, proibiram partidos como o P. do Progresso e o da Democracia Cristã (do dr. Silva Resende). E prenderam centenas de pessoas inocentes, algumas até da Esquerda, desde Artur Agostinho a José Roquete, a Ricardo Salgado, ao pai do Rui Moreira (da Molaflex) e a Mª José Morgado (MRPP).

A França desce ao nível da Roménia, da Turquia, da África?). A França, que “já deu cartas” no Mundo (com Carlos Magno, Luís XIV ou Napoleão) e que é hoje (desde a Revolução Francesa de 1789-92) um dos (teóricos) faróis planetários do Sistema Democrático, vai-se pôr a imitar, a copiar as soluções recentes, nada democráticas, usadas na Roménia, Turquia, África? Ou na própria Rússia, tão detestada por Macron, em que houve um candidato, tido por traidor à Pátria em tempo de guerra (Navalny), o qual, formalmente apenas por estar preso, foi arredado das últimas eleições presidenciais? Na Roménia, falo de Calinescu (pro-russo), que apesar de ter ganho a 1ª volta foi proibido de concorrer à 2ª. Na Turquia, falo de Imamoglu (o autarca de Istambul), mandado agora prender pelo manhoso contorcionista Erdogan, que por aquele se sentiu ameaçado em próximas eleições. Em África, é vulgaríssimo candidatos serem presos ou assassinados (Lumumba, Savimbi, Nino Vieira, etc.). O último caso terá sido o de Venâncio Mondlane, (em Moçambique), com destino político ainda incerto. Ou, lembro-me bem disso, umas eleições há mais de 3 décadas, na Argélia, que foram canceladas por a 1ª volta ter sido vencida por um forte partido religioso.

Uma lei de 2017 aplica-se a factos do período 2004-16?!). Nos países civilizados (democráticos) um dos princípios fundamentais das leis é a sua “não-retroactividade”. Isto é, cada lei só se aplica para o futuro . Ora, a eventual má aplicação dos tais dinheiros que a UE oferece a todos os partidos eleitos, não ocorreu depois de 2017! Mas antes. Se um partido (RN/FN) o usa aqui ou ali, sem beneficiar pessoas físicas, mas apenas para “tapar buracos” que ache mais prementes, isso não devia ser da conta da UE; muito menos, dos tribunais. Aliás, os jornalistas dizem que isso é mesmo prática muito comum. Que o próprio actual 1º ministro F. Bayrou, já teve uma falta idêntica e foi ilibado. E que é bem diferente da situação que envolveu Fillon; aqui havia, isso sim, familiares beneficiados.

Evitar a continuação da “actividade criminosa…). A arrogante sentença, de 2025, invoca esta desculpa de péssimo pagador, para pseudo-justificar a aplicação (a qual vai do arbítrio do juíz) da sanção “acessória” (eu diria, principal…): a da não elegibilidade de Marine Le Pen nos próximos 5 anos para cargos públicos. Ora, se já não é deputada europeia, como poderia continuar a dita “actividade delinquente”? A sentença também invoca o “perigo para a ordem pública”. Só que, esse irá acontecer exactamente fruto da ignomínia e afronta nacional que resulta da sentença…

Sério desprestígio da Justiça). Preocupa-me que isso reforce também fortemente, o mau conceito que os Povos já fazem da Justiça. Num mundo em que o Crime Organizado (droga, imigração ilegal, ameaças e violências contra inúmeras pessoas, etc..) passa quase sempre impune…

Marine teve 42% do voto popular, convenhamos…). Francamente, não estamos a falar duma pessoa qualquer. O seu partido (o RN) venceu as últimas eleições (Jul. 2024), com 37,2% dos votos; e o Ensemble (de Macron) ficou em 3º, com 25,5%... E nas últimas presidenciais (2022) Marine ficou em 2º, com 42%! Ou a senhora é palestiniana (e ninguém sabia)… ou andamos a brincar com o fogo. A coisa, contudo, não vai ficar por aqui. Até porque esta “nova Joana d'Arc” é amiga chegada de Putin e de Trump, esses “zé-ninguéns”…

Eduardo Tomás Alves

Eduardo Tomás Alves

22 abril 2025