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As medalhas perdem o brilho

O valor formativo da competição é incalculável! Quando bem conduzida, a competição apresenta-se como um fator extremamente relevante para a construção equilibrada da personalidade do ser humano em questão. Também quando malconduzida pode ter efeitos, mas desta feita, perniciosos. 

Competir é saudável! Não se trata de ganhar ou perder, trata-se de enfrentar desafios. Vencer o medo. Lidar com a ansiedade, com a pressão, com a frustração, controlar as emoções, cumprir com os objetivos, manter o foco, lutar, ajudar, perder e aplaudir o adversário, reconhecer o mérito alheio, cumprir regras, aceitar a injustiça, argumentar as situações, cooperar e mais do que qualquer outra coisa… crescer!

As competições são como os estímulos de treino, são momentos de progresso e crescimento. São “agressões” que após a recuperação fazem evoluir, crescer e amadurecer, ou seja, a preparar para a vida. Competir ensina a ser disciplinado. A preparar-se para poder estar pronto para o embate. A adversidade e o desafio são o “adubo” de crescimento de qualquer criança e jovem. É uma “via verde” incrível para o autoconhecimento. Obviamente que não advogo que as crianças devam ser maltratadas para crescerem, claro que não! Contudo, têm que sentir, têm de se empenhar, têm que enfrentar desafios, aprender a superar os dissabores, para poderem crescer mais equilibradas, isso sim. Esta é uma lição aprendida da minha experiência. 

Engane-se o pai ou mãe que pense que uma redoma em torno do seu filho(a) o(a) vai proteger. Engane-se o pai ou mãe que pense que passar a mão pelo pêlo do filho, o está a “ajudar”. Engane-se o pai ou mãe que aponte todos os problemas aos outros (ao treinador, ao árbitro, ao adversário) quando não se atinge o pretendido, que está a promover o bem-estar e a educação do seu educando. As crianças precisam dos erros, e de entender que quanto mais se erra, melhor se aprende. 

Competir é uma forma muito rica e intensa de aprender a viver, porque tem muitos limites associados. Os limites moldam o comportamento. É um microssistema que ensina a “estar” e a “ser”. Infelizmente, sente-se que muitos pais se preocupam muito mais com o “ter”. Competir é uma lição para a vida, porque faz entender a qualquer competidor que o esforço não é garantia de vitória, mas é o caminho para se tornar mais forte. 

Saber competir, estar na competição, lutar com fair play, cooperar, enfrentar, são momentos de grande importância para a formação e educação das nossas crianças e jovens. Lutar pelo seu caminho é fundamental. Apontar o dedo aos árbitros é mais fácil e apetecível porque desresponsabiliza os nossos erros. Ajudar a competir e criar ambientes saudáveis é o papel que deve assumir cada adulto. 

As vitórias são passageiras. As medalhas perdem o brilho, enferrujam. Porém, o brilho da aprendizagem e da memória têm um valor insubstituível e incalculável.

Carlos Dias

Carlos Dias

18 abril 2025