Por vezes, o contexto em que uma informação é inserida pode turvar a nossa atenção, o discernimento ou o sentido crítico. Assim, no que respeita ao novo momento da IA, vamos fazer um breve paralelo entre a liderança de pessoas e algumas boas práticas de como lidar com IA, com agentes e com engenharia de prompts.
A liderança de pessoas visa, acima de tudo, potenciar o talento, fazer com que cresça a cada dia e que o resultado seja cada vez melhor e com mais qualidade. Trata-se de ajudar os colaboradores a trabalharem melhor e a utilizarem todo o seu potencial.
Para isso, partilha-se experiência e apoia-se o colaborador, partindo de uma abordagem mais diretiva para perfis com menos experiência e motivação, passando por abordagens mais ou menos envolventes e com níveis crescentes de coaching, até chegar a patamares de maior autonomia, mantendo o controlo do resultado final.
Entre várias regras básicas, encontramos a necessidade de dar todas as condições ao colaborador para poder desempenhar um bom trabalho, nomeadamente: o contexto, a razão de fundo do que vai fazer, o objetivo principal, os fatores de sucesso do seu trabalho, toda a informação relevante, o tempo necessário para, por exemplo, testar diferentes abordagens, exemplos, consultar mais informação, optar por raciocínios distintos, dividir o trabalho em partes e executá-lo de forma incremental. Ou, por vezes, nada disso e pedimos apenas que execute uma tarefa simples e direta, com resultado urgente ou imediato. Claro que as abordagens dependem do contexto e da necessidade concreta.
Ora, vejamos agora, na mesma linha, algumas boas práticas no uso da IA para potenciar bons resultados. Embora não seja aqui o lugar certo para explorar estas técnicas em profundidade, não resisto a partilhar algumas breves recomendações globalmente aceites. Entre elas, destaca-se a necessidade de dar contexto, sempre com um volume generoso de palavras; definir que tipo, formato e extensão devem ter as respostas que pretendemos, e compreender que, quanto mais informação for disponibilizada, melhor será o resultado.
Podemos até dizer: “Dá-me a tua primeira ideia”, ou “Explora melhor e apresenta a média do que encontraste”. Podemos pedir que seja mais criativa, que adote um tom mais informal ou profissional, ou até usar exemplos que fornecemos, para que “aprenda” e se alinhe com o objetivo principal. Devemos também potenciar a emissão positiva, permitindo mais abertura em vez de impormos constrangimentos que limitam o alcance das respostas.
É também globalmente aceite que, se usarmos estas técnicas, os resultados terão muito menos “alucinações” e apresentarão um grau de acerto muito maior, alinhando o trabalho com aquilo que pretendemos.
Ora, não deixa de ser interessante constatar que, no final de contas, a forma como devemos lidar com um agente de IA é, nada mais nada menos, a forma como devemos lidar com as pessoas no seu trabalho - respeitar as suas necessidades de informação, contexto, objetivos e honestamente partilhar os fatores de sucesso, para que desenvolvam todas as suas capacidades e entreguem um trabalho e resultados cada vez melhores.
Muitos líderes, nas organizações, menosprezam facilmente a importância de dar informação, de fornecer contexto, de serem transparentes quanto ao compromisso que se pretende, falhando assim em dar todas as condições ao colaborador para desempenhar um bom papel e continuar a crescer profissionalmente com os desafios.
Com a IA, sabemos que sem um bom “prompt” não há bom resultado. Com as pessoas, deveríamos pensar da mesma forma, sem um bom briefing, dificilmente haverá excelência no desempenho.
Por isso, neste caso, temos de agradecer à IA por ter potenciado estas boas práticas, permitindo que pensemos nelas e as tragamos de volta para um tratamento mais humanizado das pessoas, todos os dias.
Talvez, de forma inesperada, a IA nos esteja a dar uma lição importante: Se a “tratarmos bem”, responde melhor. E com as pessoas, não será exatamente igual?