Numa altura em que era suposto estarmos centrados no mistério, eis-nos – quase de repente – asfixiados por um enigma.
De um lado, o mistério de um Cristo que Se realiza quando fica sem nada, dando absolutamente tudo (cf. Jo 19, 30). Do outro lado, o enigma de uma geração que se lastima quando, parecendo ter praticamente tudo, não se satisfaz com nada.
Para uma volumosa camada populacional, vocábulos como «Quaresma», «Abstinência», «Missa Crismal», «Ofício de Leitura, «Hora de Laudes» ou «Precónio Pascal» tornaram-se cada vez mais desusados.
Pelo contrário, em plena época pascal, a nossa prioridade é tentar decifrar expressões como «Manosfera», locuções como «Ideologia Incel» ou conceitos como «Blackpill, «Redpill», etc..
Por estes dias, Jamie Miller disputa mediaticamente o protagonismo às mais afamadas figuras da história.
Motivo? Com apenas treze anos, mata à facada uma colega de escola. Depois de – num primeiro momento – ter negado a autoria do crime, começa a listar um conjunto de motivações que, na sua ótica, legitimam o homicídio e toda a sorte de violência.
Entre os fatores invocados não faltam a baixa autoestima, o «bullying», a influência de grupos misóginos e – como não podia deixar de ser – a negligência dos pais.
Terá sido necessário surgir uma ficção para nos sobressaltar acerca de uma tremenda realidade: o cavernoso submundo que «capturou» muitos dos nossos jovens.
Por estes dias, não quem não opine sobre a série que até as mais altas figuras do Estado – como o Primeiro-Ministro britânico – não prescindem de ver e recomendar.
Chama-se «Adolescência».
Mas o que se estampa não é uma sociedade a crescer (como sugere o étimo de «adolescência»), mas em acelerado processo de «decrescimento», dir-se-ia até de erosão.
Deste modo e em bom rigor, «Decrescência» seria uma denominação mais ajustada ao conteúdo do seriado.
Acresce – e só por incúria nos podemos eximir a essa responsabilidade – que a «decrescência» dos mais novos tem sido, em grande parte, induzida pelos «adultos».
Isto é, pelos que supostamente já terão «crescido».
Não fomos nós que lhes passamos as ferramentas, mas sem critérios para a sua utilização?
Não fomos nós que desencadeámos a revolução tecnológica, mas descuidando fragorosamente as relações humanas?
Só que a culpa nunca é assumida; é sempre despachada para outrem. Aonde nos levará este sentimento de impunidade?
Resultado. O fenómeno encontra-se em arrasadora expansão e sem controlo à vista.
Não obstante e como lembrava São João Paulo II, «somos o povo da Páscoa e o “Aleluia” é a nossa canção».
Instalemos o «aplicativo» Jesus nos corações. Não apresentemos aos jovens um Cristo sem vida nem lhes leguemos uma vida sem Cristo. E que, por cada «cibertormenta», façamos florir uma «ciberesperança»!