A prova mais evidente de que estamos em maré de “regabofe”, veio dá-la o líder do Partido Socialista (PS) na apresentação do seu programa com vista às legislativas do próximo 18 de maio. Tendo esperado oito anos do Governo de que fez parte e mais um ano da governação dos sociais-democratas, para vir agora prometer o céu na terra aos eleitores portugueses. Não se inibindo em dizer de onde virá o contributo para a folia despesista. E como discípulo saído da escola socratista e costista, lá se propôs ir buscá-la aos impostos.
E como o dinheiro não abunda, propõe-se fazer como se faz com o lençol quando é curto: puxa-se de um lado e falta do outro. E assim será se ele for eleito. Lá terá de reverter a baixa do IRC que o executivo em gestão fez ao setor empresarial do país para, a troco de votos, adoçar o bico aos eleitores. Pouco se importando com as outras áreas, bem como com a saúde das empresas, crescimento económico e investimento privado. Sendo por isso que não descolamos do atraso em que nos encontramos, uma vez que vem um faz e, logo a seguir, outro desfaz.
Daí, estarmos perante uma prática do tapa aqui, destapa acolá. Como se nós, portugueses, comessemos amendoins com a testa. Porém, como se diz na gíria, já são muitos anos a virar frangos para saberemos destrinçar o que se deve engolir. E não ilusões com que nos possam aliciar, tais como o cabaz de alimentos a IVA 0%, tanto para pobres como para ricos (+ procura + escassez + caro), menos taxa na energia e no IUC, mimos aos nascituros e salários + graúdos.
Ademais, prescindir de uma receita que será preciso ir buscar a outro lado não é manobra decente. Sim, uma vez que não é dito ser preciso aumentar a produtividade e diminuir a despesa. Já que esta, pelos vistos, será sempre “upa-upa”, a fim de alimentar não só os do costume, como novos rapaces e, a seguir, deixar o país em apuros.
Com efeito, há que duvidar de alguns cozinhados que se andam a aprontar para as próximas legislativas. E, embora aqui a cozinha seja no sentido metafórico do termo, há sempre quem possa exagerar nos temperos. Vai daí, há que ter cuidado com o que certos chefes dos Partidos políticos tendem a colocar à nossa frente. Já que o voto tanto pode dar para reforçar o regime livre e democrático, como para criar um Estado-patrão.
É que as coisas, pelo que vemos à nossa volta, não estão fáceis para a democracia. Há no mundo um extremar de posições políticas de onde exala um fedor a radicalismo que tresanda. Sobretudo proveniente dos que, embora se dizendo democratas, logo mostrarão ao que vêm, caso cheguem ao poder: empanturrar o pobre povo, que os eleger, de indigestas questões fraturantes ou ditatoriais, quer sejam da esquerda ou de direita.
Ora, segundo algumas sondagens, apesar de díspares, mostram a AD Coligação PSD/CDS e o PS em empate técnico, com leve vantagem para os coligados. Enquanto os partidos Chega, IL, BE, LIVRE, PCP, PAN e outros decrescem. Só faltando sabermos se o pessoal continuará apostado no centrão do costume; se, apesar dos imbróglios pouco claros em que os dois são peritos exímios, qual deles terá direito a assentar arrais no Palácio de S. Bento para voltar a governar Portugal.
Obviamente, que o eleitor português já deve estar habituado a esta “chuvada” de compromissos para não cair no conto do vigário; de não engolir tudo aquilo que alguém, de forma mirabolante, prometer distribuir sem se preocupar em arrecadar receita; de saber que, a curto prazo, irá pagar caro tais prebendas. Portando, seria uma boa altura para se dar uso, nos charlatões, àquilo que antigamente se usava nas crianças quando diziam asneiras: – “olha que levas com pimenta na língua!”.
Se assim não for, Portugal arrisca-se a novo impasse governativo. E o próximo Chefe de Estado, eleito, lá terá de se confrontar com sucessivas situações como a atual. Ou seja, quedas de Governo e eleições antecipadas, a 25 milhões de euros cada, pela falta de ética republicana.