O desporto, à escala internacional, está organizado de forma piramidal, desde as organizações de base, escolares ou associativas, onde se destacam os clubes, e que evoluem para associações regionais e federações nacionais. No topo desta estrutura estão as Confederações Continentais, as Federações Internacionais e, com maior relevância, o Comité Olímpico Internacional (COI), entidade máxima do movimento desportivo global.
O caminho para um cargo internacional, não se faz em passadeiras vermelhas, alcançar uma posição em estruturas europeias ou mundiais de uma modalidade não é um processo imediato, sobretudo para cidadãos de países de menor dimensão, como Portugal. Este percurso exige tempo, consistência, credibilidade, competências técnicas sólidas, humildade e, acima de tudo, a capacidade de gerar confiança junto das partes interessadas, especialmente aquelas com poder de decisão. Por outro lado, é um erro comum assumir que, ao ser eleito para uma posição internacional, o representante passa a atuar em nome do seu país. Na realidade, a partir do momento em que assume funções, o seu papel é o de contribuir para o desenvolvimento do movimento desportivo de forma imparcial, ao nível continental ou mundial. Trata-se de uma mudança de paradigma, deixa-se de ser um “representante nacional” para se ser “um promotor do desenvolvimento internacional modalidade”.
No entanto, apesar de não existirem, à partida, ganhos diretos e tangíveis para o país de origem, é inegável o valor acrescentado que resulta do envolvimento em órgãos de decisão global: acesso privilegiado à informação, conhecimento das tendências emergentes, influência estratégica e, frequentemente, desenvolvimento de competências de liderança e gestão. Ainda assim, a busca de “influência” em prol de interesses nacionais pode ser mal interpretada e até considerada um potencial conflito de interesses. Tal perceção tem levado algumas entidades internacionais a ponderar medidas que limitem a acumulação de cargos, especialmente nos casos em que isso possa comprometer a imparcialidade ou transparência das decisões.
A nomeação ou escolha de personalidades para representar um país em estruturas internacionais deve ser feita com rigor e responsabilidade. Mais do que prestígio, trata-se de uma oportunidade de afirmação que pode elevar ou comprometer a reputação nacional. Os candidatos ideais são aqueles que demonstraram trabalho e mérito ao longo do tempo, desde a base até aos órgãos dirigentes nacionais, e que conhecem profundamente a realidade da modalidade. Estas funções, embora muitas vezes vistas como honoríficas, envolvem um grau elevado de responsabilidade. Devem, por isso, ser reconhecidas e valorizadas , inclusive do ponto de vista material. Ainda que raramente discutido publicamente, basta consultar os relatórios financeiros de várias organizações desportivas internacionais para perceber que determinadas posições são remuneradas de forma considerável, refletindo o seu peso e responsabilidade.
Assim, antes de se formularem juízos apressados sobre eleições internacionais, muitas vezes analisadas sob uma única perspetiva, importa compreender o que está realmente em jogo. Por vezes, o que parece ser uma derrota pode abrir portas para uma preparação mais cuidadosa de futuras eleições, com candidatos mais qualificados técnica e pessoalmente. A representação internacional é um desafio exigente, mas também uma oportunidade única de contribuir para o crescimento sustentável e ético do desporto global. Que saibamos escolher bem os nossos representantes, apoiá-los com inteligência e exigir deles o melhor, para o desporto, para o país e para o mundo.