Quem quer ir longe, apanha um avião para o levar rápido ao objectivo. Acontece que, às vezes, o aparelho não descola, por razões diversas, demora a levantar e deixa mesmo em terra quem o reservou. Para quem tem tempo, isso pode não ser um problema, sobretudo, para quem tem grande fidelidade à companhia, mas a espera pode ser um problema pessoal. Quando há pressa na viagem, a busca de alternativa torna-se imperiosa, ainda que a decisão possa custar uma nova reserva noutra operadora e deixar para trás companheiros com interesses comuns ou idêntico compromisso. Cada um é como é, mas há quem não suporte a espera e procure outra porta impulsionado pelo objectivo que o persegue.
Não morro de amores por Montenegro, nem por Pedro Nuno Santos. Há muito que não os via, nem vejo, como potenciais primeiros-ministros, ainda que o primeiro já tenha estado ao leme do país. E do segundo já disse que não me parecia que chegasse ao cargo. Enganei-me quanto ao primeiro e posso enganar-me quanto ao segundo. Passou uma semana desde a minha última crónica e nada se alterou de significativo. As sondagens ora se vão aproximando ora divergindo de um certo padrão, o que mostra que não há, por enquanto, uma única e definitiva tendência quanto à escolha dos portugueses. Talvez as amostras escolhidas não tenham sido suficientemente representativas, originando conclusões erradas. Certo é que o povo é soberano e irá pronunciar-se. Mas, parece estar difícil para o ex-ministro das Infraestruturas e actual secretário-geral socialista. No maior partido da oposição há quem não acredite na vitória em Maio. A liderança está a deixar partir alguns pesos pesados que faziam toda a diferença e há também quem dentro da organização política não concorde com o líder. Acresce aquele sentimento, quiçá, guiado pelas sondagens recentes, de que não há perspectivas do partido voltar ao poder tão cedo. E lá vem o lamento: que interessa um avião se não descola? É peça decorativa e algo a abater. Mais, se Pedro Nuno tem necessidade de dizer que a liderança não está em causa, está quase tudo dito. Quando um líder precisa de justificar que é ele que decide, não tem mais condições para agregar vontades. Pode continuar a exercer a função, mas só até que outro desponte. Os pares deixarão rapidamente de respeitá-lo como líder e os concorrentes verão surgir a oportunidade para se posicionarem. Não acredito que vá ser diferente neste caso. A não ser que os resultados eleitorais acabem por ser positivos para os socialistas.
Em 18 de Maio as contas serão apuradas. Se o desempate for por pouco, ainda que favorável para o lado da coligação que tem governado o país - repito o que disse na última semana –, desta vez não vai ser suficiente, como se diz na gíria popular, que se juntem alguns trapos e se espere a bênção geral. Montenegro há-de continuar a fazer parecer que não é, nem foi, responsável pela situação em que o país se encontra, mas vai ter de se sujeitar a sério ao contraditório e a algo mais do que as fases da indigitação e formação de novo governo. Se o não fizer, vai passar as passas do Algarve e colocar novamente o país em causa. Então, sendo improvável que se forme uma maioria parlamentar coerente, atendendo à tendência quase unânime das sondagens, caberá perguntar: E agora? Não continuamos na mesma situação? De que valeu a queda do governo? Qual foi a mais-valia da nova consulta popular para os portugueses? As perguntas serão incontornáveis, considerando que tudo devia, deve e deverá ser feito em função dos interesses dos portugueses. É desonesto e inaceitável que os eleitos instrumentalizem os votos dos eleitores. Ainda que aqueles tolerem que o voo se atrase e não descole no tempo certo, não tolerarão saber que alguém sabotou o aparelho para que não descolasse.