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Povo que pescas no rio

 

 



 

Aprecio imenso a paciência de quem se dedica à pesca, sobretudo à efetuada com cana, linha e anzol. Eu sei que há, hoje, muito menos gente a fazê-lo. Predominam os mais resistentes, quase sempre gente madura. Contudo, tempos houve em que era um regalo vermos pelas margens e penedias dos nossos rios pessoal de todas as idades a pescar. Daí que nos tempos que correm não seja tanto assim, uma vez que existem outras distrações mais apelativas e de satisfação imediata para os mais novos.

Via-se o empenho com que preparavam material pesqueiro. A persistência e a sabedoria não só no esticanço que davam ao carreto para estender a sediela na água, a fim de atingirem o ponto certo. Bem como o engodo e o isco, próprios para a espécie a pescar. Algo que me faz recordar algumas pessoas com esse benévolo vício que tive o prazer de conhecer e das queixas que me faziam quanto à falta de fiscalização desses caudais d’agua doce.

Lembro-me especialmente dos meus saudosos amigos, Zé dos TUB (Transportes Urbanos de Braga) e do sr. Alves (comerciante da Vila de Prado). Dois pescadores de uma sabedoria pesqueira imensa. Pois se quisesse ter um longo bate-papo bastava perguntar a um, ou ao outro: – então, como vai a pescaria? – Logo me era relatava uma série de momentos vividos com a modalidade e o tipo de peixes, tais como a truta, boga, tainha, etc. Via-se neles o gosto que nutriam pela atividade, chegando-me a citar o tamanho e o peso do pescado. Sobretudo o de maior relevo, como uma espécie de troféu da sua técnica e saber.

Me diziam eles que nos rios de água clara, ou seja, pura e cristalina, se pescam peixes de escama, saborosos e de boa qualidade. Enquanto na turva, ou poluída, a pesca apenas servia para satisfação em dar uso aos apetrechos; de ter pena de que aos nossos rios e afluentes não seja dada a atenção devida por parte de quem tutela os recursos hídricos no nosso país. Lamentando o facto de estarem a ser não só poluídos, como enxameados por espécies invasoras de plantas e animais.

E tinha toda a razão porque, ainda, no final de 2024 foi denunciado pela Associação Ambiental Palombar o aparecimento de um nefasto mamífero, denominado visão-americano, nos rios da Peneda Gerês. Como se já não bastassem os jacintos, eólias-densas e outras plantas e a insensibilidade de uma grande parte do pessoal perante um bem tão essencial à vida como é a água e de como será o amanhã sem ela. Que o digam os pescadores e os mergulhadores que frequentam os rios e o Oceano.

Já agora, aproveito para recordar aqui os meus breves momentos da minha pesca à cana na Ria de Aveiro, em 1969, quando passei pela vida militar. Os quais aconteciam no final do serviço e ao fim de semana. Não só o fazia eu, como alguns dos meus camaradas, alguns deles expert na arte, como forma de matar o tempo. Já que a Base Aérea de S. Jacinto era cercada de água, o que nos propiciava bons momentos de lazer. Sobretudo à noite, era um regalo ver o cardume de safios e robalos, iluminados pela luz dos lampiões ali existentes e a quantidade de pescado recolhido. 

Ora, não se pense que o povo que pesca no rio está isento de regras e disciplina, não. Há métodos a respeitar e mandamentos a cumprir, como os seguintes: 1 – não seja ganancioso; 2 – não use instrumentos devastadores, estranhos às boas práticas e proibidos por lei; 3 – não seque os riachos e ribeiros para apanhar peixes; 4 – não interrompa com barreiras os cursos de água; 5 – não desmate as margens dos rios; 6 – Respeite as desovas, protegendo a fauna aquática; 7 – Ajude sempre a repovoar as águas de peixes; 8 – Devolva ao seu habitat natural todo o pescado não adulto; 9 – Respeite a propriedade alheia; 10 – Procure cumprir e propagar as leis da pesca. 

Enfim, se procurarmos na Bíblia os textos dos Evangelhos encontraremos várias referências aos pescadores da Galileia. Tendo Jesus Cristo escolhido S. Pedro, como o mais sabedor e paciente dos doze Apóstolos para chefiar a Sua Igreja. 

 

 

 

Narciso Mendes

Narciso Mendes

7 abril 2025