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As perdas invisíveis: o luto que a sociedade não vê

O luto é uma experiência universal, mas nem todas as perdas recebem o mesmo reconhecimento. Enquanto algumas são visíveis e socialmente validadas, outras passam despercebidas e permanecem na sombra, silenciadas pela falta de compreensão e empatia. Estas são as chamadas “perdas invisíveis” – vivências de dor que, por não se encaixarem no padrão tradicional do luto, são muitas vezes, minimizadas e ignoradas, mas que podem causar um impacto emocional profundo em quem as vivencia.


 

Entre essas perdas estão incluídas a morte gestacional e neonatal, a perda de um animal de estimação, o fim de um relacionamento significativo, a perda de um emprego ou de um sonho, a transição para uma nova fase da vida, o distanciamento de uma amizade ou até mesmo as ruturas familiares que deixam cicatrizes emocionais profundas. Também abrangem situações subjetivas, como o luto por um futuro sonhado que nunca se concretizou ou a perda da identidade após uma grande mudança. São experiências profundamente pessoais, são dores reais, mas frequentemente incompreendidas e minimizadas pelo olhar externo.


 

As perdas invisíveis têm algo em comum: a falta de espaço para serem expressadas. Quem perde um ente querido recebe condolências, rituais e apoio. Mas e quem perde um bebé antes de poder apresenta-lo ao mundo? E quem vive a dor de uma separação inesperada ou precisa se despedir de um animal que foi parte da sua família por anos? Muitas vezes, estas (e outras) dores são tratadas como menos importantes, algo para ser superado rapidamente e sem grandes manifestações.


 

Este silêncio pode levar a um sofrimento ainda maior. Sem espaço para expressar a sua dor, a pessoa em luto pode sentir-se isolada e invalidada. Frases como: “Não é grande coisa”; “Poderia ser pior”; “Segue em frente”; “Superas isso rápido” ou “Não era para ser” refletem a dificuldade da sociedade em lidar com dores que não são tangíveis. Estas frases, mesmo ditas com boa intenção, podem aprofundar a dor ao sugerir que ela não é legítima.


 

A consciência sobre as perdas invisíveis é um primeiro passo para uma sociedade mais acolhedora. Aceitar que toda a dor tem valor, independentemente da sua causa, permite a quem sofre encontrar apoio e compressão. Não se trata de medir perdas, mas de reconhecer que cada pessoa vive o luto de maneira única. Como sociedade, precisamos ampliar a nossa compreensão sobre o luto. A dor de uma perda não precisa ser validada por normas culturais para ser real! Precisamos aprender a acolher, a ouvir sem julgar, evitar comparações e a reconhecer que todas as perdas importam. Pequenos gestos, como oferecer espaço para que a pessoa fale sobre a sua dor, sem tentar minimizá-la, podem fazer uma grande diferença.


 

Dar visibilidade às perdas invisíveis contribui para que possamos construir uma sociedade mais empática e ajuda a normalizar o direito ao luto e a romper o silêncio, mostrando que o luto é uma experiência humana que merece respeito e a dor não precisa ser silenciada. Afinal, validar a dor do outro é um ato de humanidade!


 

Quantas vezes já ignoramos ou minimizamos a dor de alguém por não a compreendermos? Talvez esteja na hora de mudarmos a nossa perspetiva e aprendermos a validar o sofrimento alheio, mesmo quando não o vivenciamos. O reconhecimento é fundamental para transformar o silêncio do luto num acolhimento verdadeiro.

Clarisse Queirós

Clarisse Queirós

5 abril 2025