1. Lê-se no Evangelho de S. Mateus (26, 14-16) que Judas (Iscariotes) foi ter com os inimigos de Jesus e lhes perguntou: quanto me dais, se eu vo-lo entregar?
E acertaram, nesse momento, o preço da traição: 30 moedas de prata.
Entre a amizade de Jesus e 30 moedas de prata, Judas preferiu as 30 moedas.
Depois, como se lê no capítulo seguinte (3-10), os remorsos apoderaram-se dele. O dinheiro da traição queimou-lhe na consciência. Arrependeu-se mas não foi a tempo de corrigir o erro. Quis devolver as moedas, mas os sumos sacerdotes e os anciãos não as aceitaram. Arremessou-as para o santuário. Foi decidido, então, porque eram preço de sangue, não as lançar no tesouro do templo mas adquirir um campo para servir de cemitério aos estrangeiros.
2. Para Judas, o dinheiro valeu mais do que, neste caso, a fidelidade a Jesus.
Foi assim há dois mil anos e assim é hoje, com certas pessoas. Infelizmente.
Por dinheiro desfazem-se laços que pareciam seguríssimos e destroem-se amizades que se julgava duradouras.
Há indivíduos para quem o que interessa é ter dinheiro. Cada vez mais dinheiro. Se honestamente adquirido ou roubado, não importa. O que interessa é ter mais. Colocam o ter acima do ser.
3. É verdade que precisamos de dinheiro para viver, mas a honestidade (a ética, de que tanto se fala) exige seja devidamente valorizado, bem adquirido, bem usado.
Seja devidamente valorizado. Não deve ocupar o primeiro lugar numa correta escala de valores. Há coisas que valem mais do que o dinheiro. O dinheiro é um meio para nos ajudar a viver melhor, mas não um fim. Precisamos de dinheiro para viver mas é um erro vivermos para termos dinheiro.
Que adianta ter muito dinheiro se se leva uma vida miserável e se se é escravo dele?
O dinheiro deve ser bem adquirido. Há formas honestas e formas desonestas de ganhar dinheiro.
O dinheiro deve ser bem usado. Deve ser colocado ao serviço da promoção integral de quem o tem e daqueles que de si dependem. Deve ser usado de uma forma solidária: para fazer o bem e para praticar a caridade, repartindo com quem não tem o necessário para poder viver com dignidade. Deve ser usado de forma que nos ajude a sermos felizes do lado de cá e do lado de lá da vida.
4. A pergunta que Judas fez aos inimigos de Jesus repetem-na hoje todas as pessoas que vêem no dinheiro o bem supremo e para o terem não olham a meios. Há pessoas que são capazes de tudo e que tudo vendem. Até se vendem elas mesmas. É só uma questão de preço.
Quanto dás? e eu vou a tribunal jurar falso.
Quanto dás? e eu incendeio uma mata.
Quanto dás? e eu faço uma espera e teço uma armadilha.
Quanto dás? e eu coloco uma bomba.
Quanto dás? e eu dispo-me em público.
Quanto dás? e eu alugo-te o meu corpo.
Quanto dás? e eu revelo-te um segredo que me confiaram.
Quanto dás? e eu falsifico uma assinatura.
Quanto dás? e eu movo influências para que se façam leis à medida de certas conveniências.
Quanto dás?…
5. Há coisas, meus amigos, que se não fazem nem vendem por dinheiro nenhum. São inapreciáveis: não têm preço. Não se vendem nem alugam.
O compadrio e a corrupção ativa e passiva são erros a exigirem a adoção de corajosas medidas que não fiquem só no papel. Mas custa tanto fazer a limpeza que se impõe… Há tantos interesses instalados…