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No Século Segundo não se representava Jesus Crucificado

Sabemos bem que é um facto que algumas “seitas” (sociologicamente falando) “cristãs” evitam, e até proíbem, a representação de Jesus na Cruz.

Umas, porque levam à letra aquele dos “Dez Ensinamentos” que refere que não se deve fazer representações de seres vivos (conferir Ex. 20,4). Ocorre, porém, e entre outros exemplos viáveis, que: o próprio YHWH pediu para se ornamentar a Arca da Aliança com imagens de Querubins; o Templo de Jerusalém estava adornado com o alto-relevo de uma vinha (representando Israel); é dito que Jesus é «a imagem [visível] do Deus invisível» (Col. 1,15) – três factos exemplificativos que mostram que o dito nesse ensinamento não se refere à imagem em si, mas, isso sim, a uma atitude idolátrica que se pode ter com ela.

Outras, porque creem que é indigno para o Ser Supremo, ainda que na Sua condição humana, ser representado crucificado, naquilo que seria um opróbrio e a desconsideração absoluta, seja desse Ser em Si mesmo, seja em tal condição incarnada. Todavia, a história diz-nos que o Deus-Amor incarnado (Jesus) aceitou passar por essa situação, para nos dar a Vida no preciso momento em que nós Lhe retirávamos a vida pelo nosso desamor de rejeição do Seu amor.

Por fim, ainda outras “seitas” acham que: por um lado, representar Jesus na Cruz com as Suas Santas partes púdicas tapadas por um paninho, é uma falta de rigor histórico (pois os crucificados eram erguidos e expostos nus); e, por outro lado, que representar Jesus totalmente despido seria escandaloso para muitas pessoas – porventura fruto do se esquecer (numa diferença que admito existir) as milhares representações de Jesus menino nuzinho.

Posto isto, há representações de Jesus crucificado que nos chegaram do séc. II. Pessoalmente conheço duas datadas do final de tal século: a) uma que está gravada num amuleto do Mediterrâneo oriental, como se tal imagem tivesse sido encarada como tendo um poder protetor ou beneficiador; b) outra presente num grafito de Roma denominado de “Grafito de Alexamenos”, e é sobre este que surgirão as restantes considerações presentes neste texto.

Esta imagem riscada numa parede, apresenta alguém na posição de adoração a uma figura crucificada e a inscrição «Alexamenos adora o seu Deus». Uma figura, diga-se agora, que evocando a Jesus, se apresenta com corpo humano e cabeça de burro, mostrando claramente ser uma provocação a tal Alexamenos por adorar um Deus que fora tão “burro” que morrera crucificado. Ocorre que, ainda que nessa época a ideia de se ter uma imagem de Jesus na Cruz ainda chocasse muitos cristãos, este grafito é mais um reflexo de quem acreditava que Jesus foi um “burro”, do que daqueles que sabem o que ocorreu na Cruz.

Na verdade, Jesus não foi “burro” – e já Paulo advertira que os pagãos pensavam e pensariam que «Cristo crucificado […] [é] loucura para os pagãos» (1Cor. 1,23) –, antes a máxima sabedoria no e do amor. Aquela sabedoria que sabe que só se combate o mal com o bem; o desamor com o amor; a morte com a doação da vida. Aquela sabedoria que nos diz, a nós cristãos, que, por mais que nos chamem “burros”, não o somos; somos, isso sim e em todas circunstâncias das nossas vidas, pessoas que não receiam que isso seja dito de nós (de modo direto ou de forma indireta), pois estamos seguros no caminho oferecido pelo Deus-Amor.

Alexandre Freire Duarte

Alexandre Freire Duarte

2 abril 2025