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Quem julga estar de pé, tome cuidado para não cair

A expressão é do Apóstolo São Paulo (I Corintios 10-12). Li-a como uma chamada de atenção e também como um conselho. Pode ser que a tivesse utilizado também como repreensão. Nenhum mal nisso. Uma boa repreensão forma o carácter de uma pessoa e é algo que produzirá bons frutos no futuro. Uma excelente lição de vida! Cada um fará como entender, mas quem nos avisa nosso amigo é. À distância dois mil anos, continua pertinente o ensinamento. Quem o proclamou sabia do que falava. A sua experiência e o seu cuidado com os amigos permitiram tal conselho que tem perdurado através de mais de vinte séculos. Um amigo não deixa de dizer as verdades, mesmo que custem a dizer e a escutar. A expressão é acolhida ainda hoje e será acolhida certamente amanhã e no futuro mais longínquo. É melhor prevenir do que remediar. Portanto, o melhor é não pôr à prova a sorte, mas fazer um esforço para que cada um se mantenha em sentinela. Estamos avisados.

Desleixamo-nos com facilidade. E o desleixo não nos deixa caminhar, antes nos amolece e nos faz perder fulgor. Julgamo-nos auto-suficientes, os maiores, os que têm todas as condições para fazer isto e aquilo, de nariz empinado, mas não somos. Na verdade, sem os outros não somos nada. Até podemos passear algum tempo na nossa vaidade individual e egoísta, mas isso acaba depressa, é sol de pouca dura. Ao contrário, preocupar-nos verdadeiramente com a comunidade, com o país, ajuda-nos a não cair com tanta facilidade. Adão estava de pé quando foi tentado, não teve cuidado e caiu. Desde essa cedência, todos temos de ter cuidado para nos mantermos de pé. Quando construímos com os outros sairemos mais fortes. É que, sempre que isso acontece, em jeito de agradecimento por algo feito por amor a eles, farão com que o promotor não caia. Uma retribuição justa, ainda que não procurada conscientemente.

Como humanos, temos quedas, umas intencionais, outras provocadas. Há tradições que caem, comportamentos e atitudes que vão mudando. Muita coisa vai caindo em desuso. Esta é uma realidade incontornável. Precisamos, por isso, de referências para não cair. De expressões que nos façam manter de pé, nem que isso custe imenso. Obviamente, não nos devemos amarrar ao que está a cair. Como fazer? Fugir ao facilitismo e dos buracos dos caminhos da vida, mesmo que se tenha de procurar um percurso mais longo. Cortar o caminho, permanecer em pé, inabalavelmente, diante das dificuldades. Ninguém fica isento de dificuldades. Nem judeu nem grego. É uma prova permanente e longa. Precisamos de resistência, tal qual um atleta precisa de estar preparado para uma corrida. Então, o melhor é encararmos a vida como uma corrida de fundo. Precisamos de treinar, de nos alimentarmos bem, de recuperarmos de alguns entorses ou quedas, estudar antecipadamente o percurso para não sermos surpreendidos. Não adianta nada andar em bicos de pé.

Pode até ser contraproducente. Se a solução for cortar caminho, não devemos aldrabar as regras nem prejudicar os que caminham connosco. Por vezes, vai ser preciso evitar algumas coisas, como não dar um passo maior que a perna. Na relação com os outros tem que haver uma reciprocidade: agradar-se de fazer o que se faz em benefício de alguém e este também se sentir agradado com os benefícios que recebe dum companheiro de viagem. Por vezes, vai ser necessário colocar caminhos para alguém com dificuldades. Estar na corrida vai-nos mantendo de pé e, se tivermos cuidado, estaremos seguros para não cair nem pôr em risco as conquistas conseguidas.

Luís Martins

Luís Martins

25 março 2025