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Os cristãos mantiveram-se dentro dos limites do Império Romano

Hoje, nesta rúbrica, vou escrever sobre um mito que irrompeu com a intenção de se apresentar o Cristianismo como uma religião moldada pelas estruturas imperiais romanas, mesmo quando ainda era uma realidade recente (estamos, recordo, no séc. II). Tal como aconteceu noutras ocasiões, estamos ante uma afirmação que tem laivos de verdade, e que, por conseguinte, exige um discernimento cuidadoso no que irei apresentar.

Não nos esqueçamos que o Cristianismo não se expandiu pela força das armas, como o islão, mas pela lenta fermentação do amor que, do coração dos cristãos, passava para os demais. A meados do séc. III (isto é, cinquenta anos depois do fim daquele segundo século a partir do qual estamos a ponderar os presentes mitos) deviam existir 1,9% de seguidores de Jesus no Império Romano. Assim, não será de espantar que os vestígios da sua presença sejam diminutos (inscrições, papiros e artefactos arqueológicos).

Com isto em apreço, podemos dizer com segurança que, no séc. II, já havia cristãos na Terra Santa e em locais que hoje são zonas da França, Luxemburgo, Alemanha, Itália, Espanha, Argélia, Tunísia, Líbia, Egipto, Arábia Saudita, Jordânia, Síria, Turquia, Grécia, Chipre, Iraque e Irão (dúvidas há, no entanto, acerca de presença na Índia e no Sri Lanka). Apesar desta já considerável distribuição geográfica, não se pode negar que a predominância da presença de comunidades cristãs se encontrava ainda no Oriente Médio.

Ao falar nos locais anteriores, deve ter-se em conta que o conhecimento e adesão a Jesus muitas vezes (e como continuará a ocorrer durante alguns séculos) ocorria, em muitos desses locais, sem a intervenção de evangelizadores para aí remetidos pela Grande Igreja. Acontecia, isso sim, de modo espontâneo e através de: comerciantes, escravos, imigrantes, ocupações de territórios pelos adversários externos ao Império Romano, etc. E isto foi assim, seja para locais que estavam dentro desse Império (a sua maioria), seja para outros exteriores ao mesmo.

Já vimos, de passagem, que existiram cristãos fora do Império Romano no séc. II. O caso das zonas limítrofes às fronteiras orientais do Império Romano (e não só, podendo mesmo falar-se em locais bem mais longínquos na direção para Este destas) é dos casos em que podemos abonar com total convicção no que concerne àquela existência.

Na realidade, tais fronteiras eram assaz flutuantes e, num mero exemplo entre outros, o nosso já conhecido Imperador Trajano (começos do séc. II), cedeu zonas do Império Romano aos Império Parto e Persa em troca da paz, fossem tais zonas recentemente conquistadas ou, numa menor escala, fizessem há muito tempo parte do Império Romano.

Os discípulos de Jesus e membros da Grande Igreja – que já existiam, com alguma solidez, nessas zonas da atual Síria, Turquia (oriental) e Iraque (ocidental) – podem ter-se movido com as fronteiras do Império Romano, mantendo-se dentro de uma realidade por eles já conhecida. Todavia, devemos ter em conta que nem todos tinham a possibilidade físicas e económicas de fazerem essas penosas deslocações ao longo de zonas grandemente agrestes e até desérticas.

Em suma: seja pelo dito ao longo deste breve texto podemos sustentar, com toda a segurança, que no séc. II já havia cristãos a viverem fora do Império Romano.

Alexandre Freire Duarte

Alexandre Freire Duarte

5 fevereiro 2025