Olhando à nossa volta com olhos de ver, a realidade que se nos apresenta é a de que aumenta a longevidade assustadoramente; e isto preocupa imenso, porque, não tendo o país estruturas capazes de com êxito, enfrentar esta evidência, a longevidade sem qualidade não passa de uma tremenda falácia.
Já venho do tempo em que chegar aos oitentas anos era uma aventura pouco comum e mesmo pouco ambicionada; claro que muitas eram as carências e da pior espécie que atingiam as populações, mormente no que aos cuidados higiénicos, alimentares e médicos concerne.
E, como corolário desta asserção, a mortalidade infantil era muito grande, sobretudo nas famílias mais numerosas e carenciadas; e, assim, nos meus tempos de escola primária, rara era a semana em que na aldeia onde vivia não existisse o funeral de uma criança (um anjinho, como se dizia) em que nós participávamos, vestidos de opas brancas.
Depois, gozar a companhia de avós com mais de setenta anos, por exemplo, era um bem precioso demais, só acessível a muito poucas crianças; e, então, concretamente muitas daquelas que nasceram na era de 30/40, devido à pandemia da pneumónica ou gripe espanhola, nem sequer os chegaram a conhecer.
Pois bem, hoje em dia ser velho é uma condição absolutamente natural e normal; e, assim sendo, ainda bem que esta realidade fruto é de imensos avanços no campo da medicina, da economia e de estilos e formas de vida mais consentâneos com as evidências dos cuidados alimentares, sanitários e físicos; e sem dúvida que esta verdade veio trazer às populações uma vida melhor, cuidada e, consequentemente, mais feliz e prolongada.
E, assim, segundo dizem recentes estatísticas, somos o quarto país mais envelhecido do mundo e na União Europeia essa caraterística coloca-nos em segundo lugar; e esta evidência faz com que Portugal se confronte com a existência de 517.144 cidadãos com mais de 65 anos o que corresponde a nove por cento (9%) da sua atual população.
Depois, a Confederação Nacional de Instituições de Solidariedade (CNIS) alerta para o facto de faltarem 20 mil vagas em lares e estruturas residenciais para idosos; ora, mais trágico ainda é que metade dos idosos com mais de 65 anos (25.857) vivem sós e destes 25% vão para além dos 75 anos.
Penso que o futuro dos cidadãos com a longevidade de uma acentuada velhice tende a complicar-se em termos de convivência, dependência, acolhimento e condições de saúde, pois o país não tem estruturas nem condições económicas e sociais para lhes garantir um final de vida em paz, saúde e bem-estar; por isso, entendo cada vez mais que longevidade sim, mas com as necessárias condições de qualidade que se vislumbram difíceis e quase impossíveis de encontrar, senão para todos, pelo menos para uma grande maioria...
Este parece-me ser o maior desafio lançado aos futuros governos e demais instituições de cuidadoras de idosos para a criação e lançamento urgentes das bases de apoio a esta faixa etária, alargadas às pessoas e demais instituições que a ela se dedicam; pois, como, recentemente, num artigo de opinião de um jornal diário li e cito de memória: não basta acrescentar amos à vida, mas mais preciso é dar vida aos anos, ou seja, melhor é dar vida aos anos do que anos à vida.
Então até de hoje a oito.