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Suprimiram-se inúmeros textos com a verdade sobre Jesus

É certo que, a par dos quatro Evangelhos que foram assumidos como passíveis de fazer parte da Bíblia, surgiram outros textos acerca de Jesus neste Segundo Século em que nos movemos. Na sua generalidade, são textos de proveniência gnóstica, mas que contêm informações que passaram, pela sua credibilidade ou plausibilidade, a fazer parte da tradição. Não sabemos se foram muitos ou poucos tais textos, mas a verdade é que se foram perdendo no pó do tempo.

Devido a terem-nos chegado poucos manuscritos desses outros textos – certamente por serem de pequenas franjas parasitárias do Cristianismo e, por isso, não teriam muitos meios para multiplicarem os seus textos – surgiu o mito que a Grande Igreja os suprimiu devido a um conjunto diversificado de intenções, muitas delas em contradição flagrante, quer com as demais, quer com os dados históricos mais verídicos que possuímos.

Entre essas intenções, podem referir-se as seguintes: a comunidade cristã primitiva tentou destruir os verdadeiros factos sobre Jesus; quis-se esconder que o verdadeiro Jesus foi radicalmente diferente do Jesus bíblico e eclesial; quis-se eliminar os pontos de vista de outras variedades de “cristianismos”; o autêntico Jesus é secreto e não o da Igreja; etc. Nada disto é novo, nem se restringe ao Cristianismo, pois as pessoas adoram “segredos” e “conspirações”.

Nunca ninguém afirmou que os cristãos, do teologicamente relevante séc. II, estavam todos de acordo na totalidade dos pontos doutrinais, tanto mais porque ainda estavam a decorrer experiências linguísticas de tradução incarnada e de explicação da mensagem cristã. Mas não só, dado que, com o surgir em força do gnosticismo no mencionado século, passaram a existir opiniões fortemente divergentes sobre o núcleo central do ensinamento cristão, como, entre outros exemplos fáceis de apresentar, a crucificação, morte e ressurreição de Jesus Cristo (negada inclusive por importantes grupos gnósticos).

Não creio que esses textos, que nos chegaram em tão poucas fontes, devam ser tidos como “falsificações”, pois os seus autores podem ter firmemente crido naquilo que estavam a veicular, fruto das suas ideias de repúdio: do Deus do Antigo Testamento, da materialidade, de uma moralidade externa à estima pessoal, da salvação por conhecimentos secretos, etc.

Mas daí a dizer-se que o verdadeiro Jesus só está presente em textos de que só temos eco muitos decénios após os Evangelhos bíblicos, e vindos de ambientes culturais muito distintos dos da Grande Igreja (que sempre pugnou por manter a fidelidade aos testemunhos transmitidos e aceites acerca de Jesus), é um passo francamente inadmissível. E é-o, por mais que os novos gnosticismos (com os seus não-tão-novos messias) queiram que o Jesus desses textos (que, em geral, não têm âncora narrativa histórica) passe a ser tido como o verdadeiro.

Dito isto, é de se referir que os estudiosos admitem que nesses textos há frases que podem ter sido genuinamente ditas por Jesus, seja por estarem também presentes nos Evangelhos canónicos, seja por reproduzirem com fidelidade o Seu pensamento. Mas uma coisa é certa: uma leitura atenta desses textos mostra que elas refletem uma visão de Deus, de Jesus, do Mundo, do ser humano e da relação deste com Aqueles e aquele muito diferente do da Bíblia.

Assim sendo, posso concluir este texto dizendo que nenhum desses textos são verdadeiros “Evangelhos”, “Boas-Novas” ou “Boas-Notícias” de um Deus-Amor incarnado para nós.

Alexandre Freire Duarte

Alexandre Freire Duarte

29 janeiro 2025