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O arguido e os outros

A imagem dos titulares dos cargos políticos fica em causa quando acontecem casos e incidentes como os da semana passada. Qualquer político eticamente responsável deveria suspender ou colocar o seu lugar à disposição se num determinado momento se vir confrontado com uma situação semelhante, envolva ou não os tribunais, mas, sobretudo, se são estes a tomarem uma posição em relação a um agente político. Se acreditamos na justiça, temos que dar mais valor às decisões que se vão produzindo durante um processo judicial. A presunção de inocência deve ser tida em conta num Estado democrático, mas não deve servir para manter um agente político intacto no seu posto e muito menos que passe a beneficiar - pasme-se - de mais regalias, como está previsto. Um agente político, ao contrário do que tem acontecido, deve ser alguém consequente, alguém que deve dar o exemplo e não permitir que fiquem dúvidas a pairar no ar para dignificar a política e não prejudicar, desde logo, os seus pares. Ou é assim ou os diversos titulares ficam sujeitos a uma imagem negativa ainda que nada tenham feito para isso. No caso que veio a lume na semana passada, o agente implicado, ao não ser consequente, desrespeitou a casa da democracia e os seus colegas em geral. Não foi original, é verdade, pois já houve outros parlamentares a braços com a justiça que teimaram em não suspender o mandato e a manterem-se como deputados do partido ou como não inscritos/independentes. É apenas mais um caso, ainda que neste o chefe e os colegas não tenham pactuado com o infractor. Infelizmente, por vezes, há arguidos que são bem recebidos e até defendidos na respectiva bancada. Note-se que não me refiro apenas à bancada do arguido por furto qualificado. Há e tem havido outros de diferentes representações. E agora, o deputado em questão vai continuar a ser deputado? E os outros que, apesar de estarem indiciados pela justiça, continuarão a manter-se no seu lugar da Assembleia da República? Não seria desejável que o Parlamento regulamentasse a respeito e exigisse que os eleitos com estatuto de arguido deixassem o estatuto de deputado, pelo menos, enquanto corre termos o processo judicial?


 

2. A imagem de Pedro Nuno, secretário-geral socialista, corre o risco de sair enfraquecida com a escolha do candidato que o Partido Socialista (PS) vai apoiar nas Presidenciais. António Costa ainda manda no PS. Às vezes, Pedro Nuno parece um pau mandado. Tem medo, é inseguro e se continuar assim não irá longe. Se perder as Presidenciais, o que é bem provável se ouvir os indefectíveis de Costa, pode preparar-se que vai ser impedido de prosseguir. E não vai sair de fininho, mas de empurrão. Pedro Nuno prepara-se para ceder à pressão dos costistas e deixar desprotegido aquele candidato que tinha todas as condições para ganhar as presidenciais: António José Seguro. O antigo secretário-geral dos socialistas encaixa nas características que referi na última crónica. Da esquerda à direita, ainda que tal acontecesse apenas na segunda volta, Seguro superaria o opositor. A esquerda não quererá permitir que a direita vença de novo, além de que muitos eleitores de direita não têm confiança no candidato do maior partido desse lado do espectro político. Para além disso, aposto que metade do PS não votará noutro candidato que não seja António José Seguro. 


 

Há muito socialista que continua a apreciar o ex-secretário-geral e não se esqueça de quando foi abalroado (sim, abalroado) já lá vai uma década e deseje que volte à ribalta da política nacional. Há os que não são de ninguém e o aprecie. Pode-se ter sido de centro esquerda e hoje não ser de nenhum partido e o veja como o candidato certo, o que faz a diferença. Mas, não vender a alma não significa ser isento. Nas Presidenciais, muitos serão por Seguro se ele avançar. Se não se candidatar, o mais provável é não serem por ninguém.

Luís Martins

Luís Martins

28 janeiro 2025