Era sabido, há séculos, que a esperança tem duas «filhas».
Agostinho de Tagaste – na transição da Antiguidade para o Medievo – assinalou que a esperança tem «duas filhas lindas»
Uma chama-se «indignação» e a outra «coragem». A «indignação ensina-nos a não aceitar as coisas como elas estão; a coragem incita-nos a mudá-las».
Assim sendo, a esperança não é indolente, estéril, inconsequente. Pelo contrário, é resoluta e cada vez mais indispensável. Pois «quando a situação é mais dura, a esperança tem de ser mais forte» (Vergílio Ferreira).
Inconformada com a realidade, a esperança gera a indignação. Comprometida com a mudança, a esperança espevita a coragem.
Na verdade, sem esperança de que o melhor é possível, a indignação de pouco nos serve e a coragem a pouco nos levará.
É por isso que – com as suas «filhas lindas» – a esperança não se limita a sonhar a realidade; procura igualmente fazer tudo para realizar o sonho.
Paulo Freire não desacertou quando repisou com primor: «É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo “esperançar”».
Para ele, com efeito, não basta a «esperança do verbo esperar. Pois a esperança do verbo esperar não é esperança, é espera».
Esperançar é «levantar-se, é construir, é não desistir Esperançar é «seguir em frente é juntar-se aos outros para fazer de outro modo».
Apesar da urgência imposta pelos acontecimentos, a esperança não pode proceder impetuosamente, o que até seria incongruente.
A esperança tem de estar forrada pela paciência. Agindo por impulso, a esperança correria o risco de se despedaçar na amargura, na exasperação.
É neste sentido que a paciência também é «filha da esperança». Foi o Papa Francisco quem o garantiu, em Maio último, ao proclamar o Jubileu.
Lamentavelmente, esta terceira «filha» da esperança «deixou de ser de casa». A paciência é «posta em causa pela pressa, que provoca grave dano às pessoas».
Sucede que, como sua «filha» dedicada, a paciência «mantém viva a esperança e consolida-a como virtude e estilo de vida».
Se – realçou Teilhard de Chardin – «o futuro pertence àqueles que deixarem aos outros motivos de esperança», o «Deus da paciência» (Rom 15, 5) os guiará para que não se amedrontem nem recuem perante as adversidades.
Em suma, a paciência não é menos imperiosa – nem menos bela – que as outras «filhas» da esperança.
Sincronizada com a indignação e a coragem, «a paciência até pode ser mais importante do que a própria inteligência» (Hermann Hesse). Ou não será mesmo a suprema inteligência?
A paciência não atropela nem desiste. É a paciência que põe a esperança em dia.
Vamos por ela. Prossigamos com ela. Nunca nos separemos dela!