“Nos últimos anos, a inteligência artificial (IA) deixou de ser um tema circunscrito aos especialistas em tecnologia para se tornar parte integrante do quotidiano. Mesmo aqueles que não trabalham diretamente na área reconhecem que estas aplicações estão omnipresentes: desde assistentes virtuais como a Siri ou o Google Assistente até às recomendações de filmes e músicas nas plataformas de streaming. Que implicações terá no futuro da comunicação? Que ferramentas e conhecimentos precisamos dominar para navegar com confiança neste novo cenário? Se há uma área onde a inteligência artificial exerce um impacto direto, é na criação de conteúdos. Ferramentas como o ChatGPT, o DALL-E e muitas outras demonstram uma capacidade impressionante para gerar textos, imagens e vídeos de elevada qualidade. Estas tecnologias têm vindo a ser amplamente adotadas na elaboração de relatórios, no desenvolvimento de campanhas publicitárias e até na produção de artigos de opinião, como o que está agora a ler. Com apenas alguns comandos simples, alcançam-se resultados que anteriormente exigiriam várias horas ou até dias de trabalho” (ChatGPT, 2025).
Foi precisamente o que fez um dos autores deste texto – aquele que assina – dando indicações detalhadas ao ChatGPT para produzir um artigo sobre o assunto. Num piscar de olhos, a ferramenta gerou um texto com o tema, as ideias-chave e o número de carateres previamente definidos em função do meio de comunicação e do público-alvo pretendido. Este é o nonagésimo nono artigo de opinião que escrevo desde 2015. Trata-se de uma tarefa que, por vezes, concluo em uma ou duas horas. Contudo, quando a inspiração escasseia, vejo-me obrigado a revisitar o texto e ajustá-lo ao longo de vários dias. Seja no contexto pessoal, académico ou profissional, a tentação de delegar tarefas a assistentes virtuais de última geração é cada vez maior. Estes sistemas prometem aliviar-nos de encargos que se tornaram cada vez mais pesados no nosso quotidiano. Todavia, o primeiro parágrafo deste texto, embora cumpra os requisitos técnicos, não tem minha marca pessoal, a minha identidade. É uma descrição genérica, desprovida das nuances que traduzem o saber de experiência feito que converta um encadeamento de frases num verdadeiro artigo de opinião.
No contexto académico, deparamo-nos cada vez mais com trabalhos elaborados pela – e não apenas “com recurso à” – inteligência artificial. Embora cumpram as normas técnicas e linguísticas, carecem de profundidade e de uma verdadeira capacidade analítica, especialmente no domínio das ciências humanas e sociais. Contudo, desde que sejam evitados o plágio, a desconsideração pelas fontes primárias e o incumprimento das normas éticas e institucionais, o estudante pode encontrar nesta tecnologia uma ferramenta poderosa para a programação, análise de dados, formatação de texto, apoio à redação e tradução, organização de ideias, gestão de tempo e muitas outras tarefas de natureza técnica. Entre o uso indiscriminado e a proibição, impõe-se o desafio de ensinar a utilizar estas ferramentas de forma inteligente e responsável. O mesmo se aplica a várias classes profissionais que podem poupar tempo em tarefas rotineiras para se dedicarem a atividades que exigem reflexão, ponderação e rigor ético, canalizando esforços para áreas que valorizam a criatividade, a análise crítica e a intervenção humana.
A inteligência artificial apresenta imensas potencialidades, mas também inúmeros desafios. Despeço-me do leitor com um segundo excerto gerado pelo próprio ChatGPT que me mereceria um conjunto de comentários, mas deixo ao leitor o cuidado de refletir: “Com a capacidade de criar textos e imagens extremamente realistas, torna-se cada vez mais difícil distinguir o que é genuíno do que é fabricado. Além disso, as redes sociais amplificam rapidamente qualquer conteúdo, seja ele verdadeiro ou falso. Por outro lado, embora sejam cada vez mais sofisticadas, as IAs ainda enfrentam limitações na compreensão do contexto cultural ou emocional de muitas situações. Um dos maiores receios associados à inteligência artificial é ainda o seu potencial para disseminar desinformação. Por isso, é essencial que cada um de nós desenvolva um olhar crítico sobre as informações que consumimos e partilhamos. Antes de clicar no botão “partilhar”, pergunte-se: é uma fonte confiável? A informação faz sentido ou é demasiado sensacionalista? A educação para a literacia mediática torna-se, assim, mais relevante do que nunca.”. Quem te avisa…