Autoritarismo é uma palavra que nos remete para “uma obediência absoluta ou cega à autoridade, oposição às liberdades individuais e expectativa de obediência inquestionável da população”. Portugal, conheceu aliás uma forma de Governo com grande conotação autoritária antes do 25 de abril de 1974.
Já para o termo “autoridade” encontramos várias definições que apontam para o direito ou poder de mandar, de ordenar, de decidir e de se fazer obedecer. Enquanto que o autoritarismo postula necessariamente uma atitude que não pode ser questionada do poder de alguém ou de um grupo, que pretende uma obediência cega e absoluta da sociedade, a autoridade convive bem com o exercício de um poder democrático, exercido a favor do bem de todos e é, chamemos-lhe assim, a argamassa que permitem que os tijolos que formam a sociedade encaixem uns nos outros e não descambem todos num monte caótico e anárquico.
Vem esta reflexão a propósito de que, no meu entender, dou-me bem com o exercício de uma autoridade democrática, porque exercida para o bem de todos. Sinto-me bem com a aplicação de regras que facilitem a nossa participação na sociedade, de forma a garantir justiça e segurança.
Posto isto, assistimos frequentemente na nossa sociedade a comportamentos de alguns dos nossos concidadãos que requerem que a autoridade faça a sua aparição. A forma como as pessoas conduzem nas estradas e ruas das localidades são disso um bom exemplo. Cada vez parece ser mais frequente os condutores violarem as regras do Código da Estrada, passarem sinais vermelhos, pisarem linhas contínuas, não respeitarem prioridades nem sinais de stop, conduzir a velocidades exageradas. E estes são apenas alguns dos comportamentos que podem ser facilmente percebidos por todos e que denotam a necessidade de intervenção da autoridade que, vá-se lá perceber porquê, aparenta ser nesta área cada vez mais invisível e passiva e, porque isto conduz a um ciclo vicioso, torna-se também progressivamente mais difícil de exercer. Talvez por isso, se assista nalguns casos a alguma retração das autoridades policiais, a um certo “laissez-faire, laissez-passer” que, sendo uma expressão muito cara ao liberalismo económico, ao nível do comportamento cívico nas estradas nos custa muito caro e gera um sentimento de irresponsabilidade e de impunidade.
Quando finalmente a autoridade resolve intervir, parece gerar nalguns um sentimento de revolta, de injustiça, de perseguição: “Porquê eu se todos fazem igual e ninguém os chateia?” Daí ao descambar e à dolorosa verificação da Lei de Murphy (se alguma coisa pode correr mal, vai correr mal da pior forma possível) é um passo.
Se calhar, foi uma situação destas que levou a que na madrugada de 21 de outubro, Odair Moniz tenha decidido não parar a sua viatura quando abordado por agentes policiais, com o desfecho que se conhece. Se as autoridades policiais estivessem mais visíveis, mais presentes na Amadora, em Braga ou em qualquer outra localidade deste país, esta tragédia tivesse sido evitada, como outras. Quem não se lembra do jovem búlgaro de 18 anos estudante de Erasmus que morreu recentemente atropelado em Braga, ou do jovem de 13 anos que continua em estado grave, também ele atropelado na nossa cidade?
De facto, enquanto cidadão, sinto-me sempre mais confortável quando sinto que as autoridades atuam de forma diligente, preventiva e contínua.
E a forma como conduzimos um carro ou uma trotineta diz muito da forma como nos comportamos em sociedade.
Na verdade, a quantidade de pessoas que conduzem a utilizar o telemóvel, bem como dos peões que andam nos passeios a fazer o mesmo é enorme. A possibilidade de uns e outros se encontrarem subitamente numa passadeira de peões, ajudam a perceber porque é que Portugal foi o campeão europeu de peões mortos em 2022.
Não, não preciso de autoritarismo, mas onde raio estão as autoridades?