A imprensa desportiva, qual sanguessuga ou vampiro, alimenta-se essencialmente de sangue. Também parecem viver ainda na idade média no que se refere a regalias e privilégios de diferentes classes. Para eles, há apenas três nobres clubes que vivem nos seus palácios e devem ser sempre notícia. Na idade média também se entoavam cantigas de amor, de amigo, e de escárnio e maldizer. Hoje, ao que consta, para a imprensa, importantes mesmo, são as de escárnio e maldizer.
Os nobres clubes, percebe-se pelos constantes empréstimos obrigacionistas, andam de tanga, mas continuam a ostentar anéis e a viver em palácios sumptuosos. E é isso que é notícia...bem como o seu séquito de seguidores.
Um dos nobres, pelo tempo que demorou a ver-se livre de um aristocrata alemão, foi sendo notícia diariamente pelos piores motivos e maus resultados. Despediu-o, mas como nobre que é, continua a pagar-lhe principescamente, enquanto o substituto a ganhar bem menos, vai melhorando a equipa e os resultados – o que não era difícil, diga-se.
Outro nobre do nosso futebol vivia um conto de fadas com resultados de excelência. Entretanto, fizeram-lhes o que há quatro anos atrás estes nobres tinham feito a uma equipa (digamos) do clero, requisitando desta vez o líder das suas tropas para Terras de Sua Majestade. O novo líder, na primeira prova de fogo, não conseguiu fazer esquecer o antecessor. Ao que consta, também aqui terão terminado as cantigas de amor e começado as de escárnio e maldizer.
Um terceiro nobre ao ver desaparecerem anéis e dedos, decidiu arrepiar caminho, mudando o seu paradigma de liderança. Continua, no entanto, em apuros pois quase semanalmente valida a lei de Murphy onde nos é dito que “se algo pode correr mal, vai correr mesmo mal”. Também por isso os revoltosos que perderam as eleições assumem como verdadeiro o Princípio de Peter que explica como todos os membros de uma hierarquia ascenderão, inevitavelmente, ao seu nível máximo de incompetência. Ou seja: o adjunto não tem capacidade para ser treinador; o ex-capitão não é competente como delegado; o treinador - tri-vencedor em 2011 - como presidente, é um desastre.
Infelizmente, e sendo transversal a todos os clubes, os emotivos adeptos alimentam-se única e exclusivamente de vitórias, ou de sangue, quando estas não surgem. Todos se dizem diferentes, mas, ao que se lê (e vê) são iguais. Assim como os treinadores, os adeptos sofrem do mesmo...são bestiais quando o clube vence, assumem comportamentos de “bestas” quando o clube perde. Exemplo: as tochas impunemente lançadas em recintos desportivos, prejudicando os clubes que dizem amar.
No entanto, todos os clubes têm outro tipo de adeptos, residuais, mas… mais racionais. Talvez por assumirem comportamentos demasiado civilizados para (a)normalidade da modalidade, raramente são notícia. Recentemente, em Matosinhos, a direção de um clube homenageou o atual treinador de outro, antes de se defrontarem, e aí, reconhecemo-los quando todos aplaudiram e foram aplaudidos. Por isso, aqui fica o registo.