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Finalmente!

1. Até que enfim! Vai celebrar-se o 25 de novembro, reconhecendo àquele acontecimento de 1975 a importância que teve na vida do País.

Não é do agrado de forças de esquerda não democráticas. Por isso só agora se lhe atribui o relevo que merece. No entanto, queiram ou não, a verdade é uma: se hoje vivemos numa democracia pluralista, que diariamente deve ser aperfeiçoada, tal se deve aos vitoriosos do 25 de novembro de 1975.

O 25 de abril de 1974, com o programa dos três Ds – Democratizar, Descolonizar, Desenvolver - deu-nos a liberdade. A tal esquerda não democrática tudo fez para nos encerrar numa ditadura. E foi o 25 de novembro que impediu que tal se concretizasse. Restituiu-nos a liberdade. Uma liberdade responsável.


 

2. Entre o 25 de abril de 1974 e o 25 de novembro de 1975  viveram-se os tempos do PREC -Processo Revolucionário em Curso, que mais não ia sendo do que uma corrida para o abismo.

Para que os erros se não repitam é bom lembrar datas como o 28 de setembro de 1974 e o 11 de março de 1975 e o que significaram no avanço de uma nova ditadura que nos quiseram impor. 

Daquele recordo o boicote a uma manifestação da maioria silenciosa, com as brigadas populares em ação, e a propalada ameaça (felizmente não concretizada) da matança da Páscoa.

De março lembro a nacionalização da Banca e dos Seguros e, por arrasto, de importantes Meios de Comunicação Social. Os saneamentos selvagens e a imposição de uma nova forma de censura.


 

3. Os tempos do PREC foram meses de graves desmandos, de que enumero apenas alguns: A existência de mandados de captura assinados em branco. As detenções por longos períodos de tempo sem que se tivesse chegado a organizar qualquer processo. A formação de brigadas populares que se atribuíram o poder de fiscalizar as viaturas de quem lhes convinha. O cerco ao Patriarcado de Lisboa e ao Palácio de Cristal no Porto, onde decorria um congresso do CDS. O cercou ao Governo de Pinheiro de Azevedo e à Assembleia Constituinte, impedindo os deputados de saírem da Assembleia da República. As tentativas de silenciar a Rádio Renascença e a colocação de uma bomba no posto emissor da Buraca. A ocupação das instalações do jornal «República» e expulsão do seu diretor, o socialista Raul Rego. A exigência de que o arcebispo de Braga, D. Francisco Maria da Silva, a caminho de um congresso no Brasil, se tivesse posto em cuecas numa sala do aeroporto de Lisboa. O esforço por implantar a unicidade sindical.


 

4. Tudo culminou no Verão Quente de 1975 que deu origem a uma forte reação de forças democráticas no norte do país. Se me não engano começou em Aveiro. 

Lembro particularmente o 10 de agosto que juntou em Braga uma enorme multidão. Em frente à Catedral proferiu um patriótico discurso D. Francisco Maria da Silva.

O regresso à normalidade aconteceu com o 25 de novembro que foi a vitória da Democracia e o afastamento do perigo de uma guerra civil. Quatro personalidades contribuíram particularmente para isso: no plano militar, Ramalho Eanes e Jaime Neves; no político, Costa Gomes e Mário Soares.


 

5. Durante o PREC também se registaram graves desmandos protagonizados por gente da extrema direita, que não ficou de braços cruzados. Recordo, aqui em Braga, os ataques a sedes do Partido Comunista e do MDP/CDE, as bombas colocadas na antiga Casa da Mocidade e em sedes de sindicatos na Rua de S. Marcos. 

Lembro a constituição do MDLP (Movimento Democrático para a Libertação de Portugal) e do ELP (Exército de Libertação de Portugal) e a elaboração do Plano Maria da Fonte.

Não quero ser injusto mas estou convencido de que, comparados com os da esquerda não democrática, foram muitíssimo menores. E, em muitos casos, surgiram como reação àqueles. Aliás, quem discordava das orientações e ação da esquerda não democrática era apelidado de reacionário (e de fascista).

Silva Araújo

Silva Araújo

21 novembro 2024