“Se você obedece a todas as regras, acaba perdendo a diversão”. Bob Marley, cantor e compositor espiritual jamaicano. Símbolo da resistência negra. O mais conhecido músico reggae de todos os tempos. (1945-1981)
1 - A cidade de Lisboa transformou-se ao longo dos anos num barril de pólvora. Nos bairros periféricos, clandestinos e precários, que a cercam. Um facto indesmentível. Uma realidade que o país tem de acomodar, como já o fizeram outras cidades europeias. Infelizmente. E forçosamente. Não é mais possível continuar a enterrar a cabeça na areia, perante o gigantismo de gente desintegrada. De banditismo e de vandalismo. De locais que se fecharam sobre si próprios, não permitindo “intrusos” dentro dos seus muros. O momento social é sério e complexo e tende a agravar-se, se não forem tomadas medidas cirúrgicas e inteligentes nesses bairros que vivem em constante desassossego. Medidas para mitigar e degolar, aos poucos, o problema.
Sem querer activar qualquer alarme social, o barril existe. Instalou-se mesmo nas zonas da periferia da Grande Lisboa e a pólvora está “à mão de semear”. E há quem lance adubo, os extremistas, na sementeira para esturricar ainda mais o terreno bravio.
2 - Segundo parece, os gangues estão bem organizados e em franca actividade nos domínios periféricos. São eles que impõem a “lei e a ordem”. Há muito ódio no ar. Por tudo e por nada, lá vêm à tona o racismo e a segregação à baila. Como não podia deixar de ser. Sem uma base sólida que o justifique. Esses são mesmo os fermentos. É tudo, portanto, uma questão de tempo para as coisas se precipitarem. E também de oportunidade, uma vez que qualquer motivo serve para se pegar na mecha e lançar o pasmo neste país de brandos costumes. A primeira investida de monta, a actuação excessiva da polícia (?), causou um grande tumulto, há dias, que se cifrou em perdas de vida (um morto e um ferido grave) e danos materiais avultados. O apuramento das responsabilidades pela “guerra urbana”, está em investigação. Aguardam-se respostas claras e convincentes para se conhecer a verdade. E depois actuar. Sem contemplações. E sem hesitações. O que aconteceu não poderá ficar impune. A democracia assim o exige.
3 - Não vou entrar na demagogia dos “santos e pecadores”. Na conversa fiada extremista dos algozes e das vítimas inocentes. De um lado, na visão bloquista, facção ultra-minoritária, estão os marginalizados da democracia, os explorados, os desgraçados; do outro os costeiros do sistema. Não entro neste jogo maniqueísta por razões de mero realismo, da verdade e das mais elementares regras de civilidade por onde se orienta a moderação. O bom senso. O sentido de responsabilidade. O saber viver em sociedade. É preciso fundamentalmente viver com tolerância e tranquilidade. Ser e sentir-se útil nesta montanha de problemas que vai tomando uma altura demasiado íngreme para as defesas de um sistema democrático que se esvai em questiúnculas crispadas de facciosismo reacionário.
Ponto final - O país não precisa destas convulsões gratuitas e deste acirrar de facções como bem faz, demagogicamente e com aproveitamento político, a ala extremista. O país precisa de se acalmar e de integrar com humanidade quem chega para trabalhar ou para estudar. A boa imagem do país precisa de ser conservada. Com todo o rigor e a máxima exigência. O país muito depende economicamente dessa boa imagem.