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Vamos falar sobre Saúde Mental? Cuidar em Saúde Mental: Ameaças e oportunidades (Parte II)

O sinuoso caminho trilhado pela Psiquiatria até aos dias de hoje, sobre o qual refletíamos há dias, constituiu, por si só e ao longo dos tempos, um grande entrave à prevenção, cuidado e reabilitação (em muitos casos, reinserção social) para todos aqueles que sofrem deste tipo de patologias.

Atualmente, somamos a este facto quiçá a maior ameaça a um cuidar de excelência na área da saúde mental: a existência de vários mitos a respeito da doença mental, que continuam a condicionar a procura de ajuda por parte da população e que interferem também, desde logo, na qualidade dos cuidados prestados. 

Paradoxalmente, constatamos hoje que falar de saúde mental virou uma espécie de moda. Impulsionados pela pandemia da Covid-19, investigadores, profissionais de saúde, órgãos de comunicação e população em geral são, não raras vezes, pródigos em debitar conceitos e estudos, em muitos casos sem perceber exatamente de que falam. Existem também cada vez mais pessoas, nomeadamente figuras públicas, a dar o seu testemunho e partilhar as suas experiências, num misto de tentativa de consciencialização e combate ao estigma e à discriminação.

O que parece certo, é que estes comportamentos vieram abrir a caixa de pandora. Deram o pontapé de saída para que esta área da medicina tenha vivido, como nunca, uma evolução significativa, fazendo-nos acreditar que o presente e o futuro da saúde mental são, atualmente, promissores e com múltiplas oportunidades para avanços significativos no que diz respeito à compreensão, prevenção e tratamento das doenças mentais. 

Aspetos técnico-científicos, como os avanços na pesquisa neurocientífica (de que resulta, por exemplo, o desenvolvimento de medicamentos mais eficazes e com menos efeitos colaterais) e a utilização de terapias alternativas e complementares, têm revelado ser de sumo interesse na promoção de um cuidado mais efetivo. 

Em simultâneo, tem vindo a mostrar-se uma mais valia a integração da tecnologia na saúde mental, nomeadamente através do desenvolvimento de aplicações que permitem rastrear, por exemplo, o humor, a ansiedade e o stress, funcionando como ferramentas para o autoconhecimento e apresentando propostas para o autocuidado.

Finalmente, a existência de uma abordagem holística da saúde mental, com igual destaque para a humanização dos cuidados, já vem dando mostras da destruição de alguns mitos, com consequente redução do estigma à volta das doenças do foro psiquiátrico.

Caminhamos, hoje, a passos cada vez mais largos na reformulação de um sistema de saúde que torne o cuidado em saúde mental universalmente acessível, garantindo que todos os cidadãos tenham os cuidados necessários e de elevada qualidade. Com a implementação das medidas atualmente propostas, na próxima década a saúde mental em Portugal deverá evoluir para uma prevenção cada vez mais efetiva, uma intervenção precoce e a integração dos cuidados e dos serviços, garantindo uma rede de suporte mais eficaz para todos. E só assim será possível melhorar a qualidade global de vida dos cidadãos portugueses e a saúde das comunidades onde se inserem. 

Cristina Silva

Cristina Silva

7 novembro 2024