É praticamente repetitivo que, no ensino público, os alunos que começam as aulas não podem estar certos de ter todos os professores nas diversas disciplinas do seu currículo escolar.
Não duvidamos que o ministério respectivo desenvolva todos os esforços para que tais situações não aconteçam. Mas quando, pelo menos assim o referem os meios de comunicação social, quinze dias depois da abertura do ano lectivo ainda haja mais de 100.000 alunos que têm falta de, pelo menos numa disciplina, do devido professor, parece que existe uma real incapacidade, por parte de quem gere o ensino público em Portugal, de resolver esta situação.
Dir-se-ia que esta moléstia é algo que faz parte da normalidade do ensino estatal, que dá por suposto que as coisas são como são, e que outra maneira de as encarar é pura fantasia.
Fui professor do ensino estatal e do ensino privado durante quase vinte anos da minha vida. Recordo que, no primeiro ano em que me candidatei para ensinar (no ensino estatal), concorri de acordo com os prazos definidos para o efeito. Não recebi nenhuma nota do ministério sobre a minha situação. O tempo ia passando sem nada me ser indicado.
Um colega conhecido, sabendo da ocorrência, disse-me que na sua escola havia falta de um professor da minha especialidade. Aconselhou-me a que eu lá fosse e me apresentasse, certamente mostrando toda a documentação necessária. E assim fiz. No entanto, apesar da boa vontade dos membros directivos, explicaram-me que acabavam de preencher o lugar com um colega que aí acorrera antes de mim.
Quando já me preparava para sair, uma das pessoas que me atendeu, observou que, de acordo com o que ouvira a alguém, uma escola – nessa altura, um liceu – tinha um lugar vago do meu sector de ensino e não conseguia preenchê-lo por falta de candidatos. Deu-me o telefone conveniente, de que me servi quando cheguei a casa – nessa altura ainda não havia telemóveis. Fui bem atendido. E quem falou comigo, tomando nota do meu nome, pediu-me para lá ir no dia seguinte, levando todos os papéis convenientes para se ultimar, nessa altura, a minha inclusão no lote de professores desse estabelecimento de ensino. Assim o fiz e, porque no horário que me deram, havia uma aula da parte da tarde, logo me disseram que fizesse a minha apresentação. E não me preocupasse com as questões burocráticas da situação, porque tratariam de tudo. Aceitei e assim comecei a minha vida de professor do ensino público.
Anos mais tarde, convidaram-me a passar para o privado e incumbiram-me de iniciar uma escola, que dirigi durante doze anos. Certamente que não consegui a perfeição completa em tudo o que me era exigido e eu também pretendia. No entanto, nunca me passou pela cabeça começar o ano lectivo sem ter todo os cargos didáticos preenchidos. Ou, no caso de uma doença mais ou menos prolongada de um professor, não arranjar um substituto que mantivesse o ritmo das aulas e das matérias em ordem.
É que aqui, os pais, que pagavam para terem uma escola em pleno funcionamento, me pediriam imediatamente explicações se houvesse alguma anomalia. Graças a Deus, conseguiu realizar-se, não sem falta de esforço e dores de cabeça, todos os problemas que surgiam.