Considera-se, de forma geral, que a coerência caracteriza alguém que é dotado e age com autenticidade, transparência, lisura comportamental e lógica. Deste modo, estamos perante uma pessoa intelectualmente coesa, compreensível, adequada à realidade e, como tal, coerente. De modo oposto, considera-se a incoerência ou incoerente alguém que age com falta de lógica, desarmonia em relação à finalidade a que se destinam as suas palavras ou atos e a ausência de ligação ou conexão entre ideias, factos, ações e a realidade. Auguste Comte, filósofo, lançou as bases do positivismo como uma teoria da ciência mas, também, como base da reforma da sociedade e, consequentemente, como caminho para uma “nova religião”. O positivismo, como teoria do saber, assenta na análise dos factos, investiga as relações entre esses factos objetivos e, sobretudo, procura a melhor forma como agir ou fazer, pondo de lado as causas. Há em Comte, bem como ainda hoje nos seus seguidores, uma evidente resistência à metafísica e ao sobrenatural ou transcendente. O seu positivismo procura encontrar algo que preencha o vazio deixado pela verdadeira metafísica, através de uma “religião positiva” que deve estar centrada apenas no Homem e no seu altruísmo, rejeitando, por princípio, o conhecimento a priori. Nesta conceção, nasce uma nova ciência centrada no estudo da sociedade e das suas leis. Auguste Comte passa a falar de “Sociologia”, como estudo positivo de um conjunto das leis próprias dos fenómenos sociais, assente no Estado positivo e no aperfeiçoamento progressivo da humanidade, cujo método da “nova religião”, segundo Comte, não é teológico mas sociológico. “Nova religião” a partir de uma ciência moral em que o próprio Homem é o ser divino, não pelo sobrenatural mas pelas leis da física, das relações sociais e da ética. Relações sociais em que a “Sociologia” é analisada a partir do conhecimento e da “ciência moral” ou ética, por teorias, para o efeito, de natureza estatísticas e numéricas. O dilema é que as Nações e as sociedades que as constituem são formadas por seres Humanos com conhecimentos, cultura e valores diferenciados. O ser Humano, como ser único e irrepetível, nunca a ciência provou o contrário, mesmo dotado dos mesmos conhecimentos, tem pensamentos e interpretações diversas, possui conhecimentos e valores inquantificáveis e são incomensuráveis os seus limites, face à alegria e à tristeza, face ao conhecimento e à arte e face aos limites e incerteza entre a vida e a morte que o transcende. Por tudo isto e muito mais o ser Humano e´, na verdade, Misterioso. O positivismo e a sociologia de Auguste Comte, bem como as conceções e práticas de muitos sociólogos do nosso tempo, com uma área do saber longe de ser exata, se apenas optarem pelas leis positivas e pelo saber estatístico e numérico, face à Natureza Humana, os resultados serão absolutamente falaciosos e incoerentes. Por mais que se teçam as palavras expostas em quadras de obras escritas, quando se misturam, em igual conceito, a Natureza, o Tempo, os políticos e Deus, estamos a desrespeitar e banalizar não só o Deus Humanado mas até a ignorar a conceção kantiana da transcendentalidade. E quando se adotam e encenam obras de arte, qualquer que ela seja, englobando o mesmo Deus Humanado onde, claramente, o ateísmo é latente. Sim, muitas vezes para cativar audiências, não é a propagação da fé nem o bem comum que imperam, no seguimento da conceção do mesmo positivismo, mas é o denegrir, o afrontamento aos Cristãos e a fratura social em nome de falsas modernidades. Citando, apenas, estes factos que nos são apresentados em forma de “pele de cordeiro” que maior prova de incoerência nos poderá ser dada… E que pensar de grande parte dos comunistas portugueses (PCP) que se consideram os paladinos da democracia mas que aceitam e aprovam ditaduras, fazendo tudo para que os ditadores se perpetuem no poder, como na posição tomada face aos recentes acontecimentos das eleições na Venezuela. Na mesma linha política, para os comunistas, ou grande parte deles, os Estados Unidos da América são considerados o “Grande Satã”, o imperialismo capitalista e a origem de todo o mal. Se assim fosse, como o concebido pelos comunistas, seria razoável e lógico que muitos dos mesmos comunistas optassem por emigrar, trabalhar e viver, não nos Estados Unidos da América e seus aliados mas, nomeadamente, na Rússia, Cuba, Coreia do Norte e na República Socialista da Venezuela. E não venham com a tese falaciosa do anticomunismo primário porque, onde está a verdade e a coerência nesta política…
A coerência e a incoerência
Abel de Freitas Amorim
6 setembro 2024