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Rainha Santa, Padroeira de Coimbra. Do passado… ao presente

O calendário litúrgico dedica o dia 4 de Julho a “Santa Isabel de Portugal”. A Edilidade Conimbricense escolheu esta data para seu feriado municipal. Sem qualquer pretensiosismo, mas antes como mero devoto da Rainha Santa, escrevo estas linhas, pois tenho gosto em partilhar… 

Faço-o com a emoção de quem veio a este mundo numa casa virada para o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, em meados do século passado. Estava (e estaria ele) abandonado, meio submerso e enterrado. Dei os meus primeiros passos na religião católica no Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, sob a protecção da Rainha Santa Isabel, cujo corpo está depositado no rico túmulo de prata, com viseiras transparentes, por detrás do altar-mor, deste separado por um vidro. Antes estivera num túmulo de pedra mandado construir pela própria Rainha, ainda durante a precária (porque sujeita aos alagamentos das águas do rio Mondego) instalação no mosteiro velho.

A Rainha Santa fez o seu testamento em  1328. Nele expressou a sua vontade em ser sepultada no Mosteiro. Mensageira da paz e da concórdia entre desavindos familiares, tentou acorrer a travar a luta entre D. Afonso IV, seu filho e D. Afonso XI de Castela, seu sobrinho, em Estremoz    

Aí veio a falecer, vítima da peste, em 4 de Julho de  1336. Seu filho D. Afonso IV fez cumprir a vontade da mãe. De acordo com a História, sendo a viagem demorada, havia o receio de o cadáver entrar em decomposição, devido ao calor que se fazia. A meio da viagem, o ataúde terá começado a abrir fendas; por elas escorria um líquido, que todos supuseram provir da decomposição do corpo. Qual não foi a surpresa quando se constatou que, em vez do mau cheiro esperado, dele saiu um aroma suavíssimo.

Hoje em dia, de há muitos anos a esta parte, que em anos pares as Festas Religiosas em honra e louvor da Rainha Santa Isabel tomam um carácter mais solene, e tem como ponto alto duas procissões, em Julho, com o transporte do pesado andor com a imagem da Santa Rainha (cerca de 900 quilos). Na primeira, deixa o Mosteiro ao fim da tarde de uma quinta-feira (este ano no dia 11), desce o Monte da Esperança, atravessa o rio Mondego, para uma visita à cidade. No Largo da Portagem haverá uma saudação solene à Rainha Santa Isabel. Esta procissão tem carácter penitencial e de recolhimento, propicia a pagamento de promessas; e termina na Igreja de Santa Cruz. Aí ficará até domingo, à espera de uma visita mais recolhida dos seus devotos, outros crentes e, porventura demais visitantes.  

No dia 14, sai deste templo, a meia tarde, de regresso ao seu lugar no seu Mosteiro. É uma procissão solene e de louvor, presidida pelo Bispo da Diocese de Coimbra.

Notas finais:

1) A Rainha Santa Isabel foi canonizada pelo Papa Urbano VIII em 25 de Maio de 1625, portanto durante a Dinastia Filipina, a terceira da História de Portugal.

2) «No dia 27 de Outubro de 1677 ocorreu a trasladação do sagrado corpo da Rainha Santa Isabel do túmulo de pedra, onde jazia desde 1336, para o túmulo de prata, encomendado por D. Afonso de Castelo Branco, 41.º Bispo de Coimbra. [Dois dias mais tarde] ocorreu a trasladação do sagrado corpo da Rainha Santa Isabel, já no túmulo de prata, em procissão, desde o velho Mosteiro para o novo [no alto do monte].» (in: Campeão das Províncias, semanário no papel, 25 Outubro 2023/diário online). Nota 2)-2) A data de 27/10/1677 não é a única para a mudança de túmulos.

Bernardino Luís Costa

Bernardino Luís Costa

12 julho 2024